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Projeto de lei maluquete quer o fim do anonimato na Internet

Hahahaha. Além dos problemas de ordem prática, esse negócio é tão inconstitucional que eu sinto meu intestino dar nós. É praticamente um projeto de lei chinês! Ou isso, ou é inócuo...porque pelo que a matéria dá a entender, se a exigência for apenas de documentação, isso os provedores já têm.

[quote]Projeto quer controlar acesso à internet

ELVIRA LOBATO, da Folha de S.Paulo, no Rio.

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado votará, na próxima quarta-feira, um projeto de lei que obriga a identificação dos usuários da internet antes de iniciarem qualquer operação que envolva interatividade, como envio de e-mails, conversas em salas de bate-papo, criação de blogs, captura de dados (como baixar músicas, filmes, imagens), entre outros.

O acesso sem identificação prévia seria punido com reclusão de dois a quatro anos. Os provedores ficariam responsáveis pela veracidade dos dados cadastrais dos usuários e seriam sujeitos à mesma pena (reclusão de dois a quatro anos) se permitissem o acesso de usuários não-cadastrados. O texto é defendido pelos bancos e criticado por ONGs (Organizações Não-Governamentais), por provedores de acesso à internet e por advogados.

Os usuários teriam de fornecer nome, endereço, número de telefone, da carteira de identidade e do CPF às companhias provedoras de acesso à internet, às quais caberia a tarefa de confirmar a veracidade das informações.

O acesso só seria liberado após o provedor confirmar a identidade do usuário. Para isso, precisaria de cópias dos documentos dos internautas.[/quote]

Leia o resto da matéria aqui.

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Qualidade nas legendas

Com esse barata-voa que se instalou na comunidade de legendas, ficou ainda mais difícil pensar em algo importante, e que sempre tem sido relegado a segundo plano: controle de qualidade das legendas.

Vamos combinar, a maioria dos "tradutores" de legendas têm um nível de primeiro ano de CCAA. É difícil encontrar uma legenda que não contenha erros crassos de tradução, que são identificáveis mesmo sem saber o texto original.

Vi dois filmes que falam o tempo todo em drogas e vício -- A Scanner Darkly e Thank You for Smoking -- e os caras traduzem addiction como adição, e addictive como aditivo! Que fosse um ou outro erro acessório, tudo bem, mas são palavras essenciais para a compreensão da história.

Isso não é nem falta de conhecimento em inglês, é burrice mesmo. O cara não consegue escrever uma frase coerente, e mesmo quando o vocabulário está correto, a frase fica artificial, com a estrutura dela copiada do original em inglês.

Eu gostaria que houvesse um bom site de legendas com mecanismos para avaliar a qualidade do que é postado. O Legendaz até que tinha um arremedo disso, apesar de apagarem alguns comentários com críticas. Mas era preciso algo mais, informar sobre as revisões, premiar os melhores tradutores, etc. Acho que vou esperar sentado.

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Terrorismo causado pela ADEPI cada vez pior

Agora, eles acharam uma boa idéia tirar do ar sites que distribuem legendas gratuitamente, baseando-se em um artigo que diz que "proibido traduzir uma obra sem o consentimento do autor". O pior é o que os sites estão acatando essas ameaças terroristas, e saindo do ar ou tirando sua seção de legendas (como fez o LostBrasil). Esses webmasters brasileiros são uns cagões, nenhum deles tem peito para ignorar essa ameaças, como faz o pessoal do PirateBay.

A notícia, abaixo:

LostBrasil e SóSéries são pressionados a tirar legendas do ar

O cerco ao sites que distribuem legendas em português de filmes e seriados de televisão aumentou. A Adepi (Associação de Defesa da Propriedade Intelectual) decidiu não esperar por novas ações da polícia federal e enviou comunicados aos sites LostBrasil e SóSéries para que suspendam o fornecimento de legendas, ameaçando processá-los caso contrário.

Segundo informação publicada ontem pelo site LostBrasil, os advogados da Adepi estão agindo representando os interesses dos grupos Buena Vista (que produz e distribui Lost em DVD) e Sony (dona do canal AXN). Desta vez o argumento usado não é que a distribuição de legendas é feita com a intenção de lucro, mas de que a tradução de conteúdo sem o consentimento de seu autor constitui crime de violação de direitos autorais.

O site LostBrasil retirou do ar as legendas ontem (dia 31/10) e saiu do ar hoje pela manhã. O SóSéries também removeu suas legendas e seu site do ar - apenas o fórum do site permanece funcionando.

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Juíza espanhola diz: compartilhar arquivos é legal, compartilhe você também!

Paz Aldecoa, sou seu fã. Tudo bem que é capaz da decisão ser reformada, e da Espanha receber uma alteração na lei de direitos autorais ainda mais draconiana do que a recente, mas convenhamos, Aldecoa merece palmas. Ah, é uma juíza, e não um juiz, ao contrário do que dá a entender a seguinte citação do Register:

[quote=The Register]A judge in the northern city of Santander in Spain dismissed a case against an anonymous 48-year-old man who shared digital music on the net.

Judge Paz Aldecoa of No. 3 Penal Court ruled that under Spanish law a person who downloads music for personal use can not be punished or branded a criminal. He called it "a practised behaviour where the aim is not to gain wealth but to obtain private copies".[/quote]

Fonte

Mais informações aqui.

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Pequena Miss Sunshine

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[MOSTRA/SP] El Laberinto del Fauno

Segundo filme do que aparentemente será uma trilogia com 3993, em 2007, iniciada por El Espinazo del Diabo, esse filme é a indicação do México para o Oscar de filme estrangeiro. Acho que tem MUITAS chances de ganhar, e a Academia é capaz até de ignorar os componentes fortes de horror/fantasia, já que tem criancinha e tem guerra. Mas não da forma usual, melhor frisar logo de cara.

Quem viu Espinazo já sabe mais ou menos o que esperar. Fauno e Espinazo se complementam muito bem, em tom e conteúdo. Com a diferença de que Fauno é bem melhor (não que Espinazo seja ruim, é um filme que deveria ter ganhado mais reconhecimento). Também é mais violento, triste e cruel, de dar um certo nó na garganta no final.

Assim como Espinazo, é um filme que tem efeito cumulativo. Começa legal, mas vai ganhando força lentamente até o final extremamente bem orquestrado. Tiro certeiro de del Toro.

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[MOSTRA/SP] The Prestige

Eu apostei nesse filme como o melhor de 2006, e acho que não errei...muito. Não sei se é o melhor, mas é um dos melhores, sem dúvida. Engraçado como eles mudaram MUITA coisa do livro, e ao mesmo tempo mantiveram muita coisa também. Os irmãos Nolan alteraram radicalmente a estrutura, mudaram a moldura da trama, modificaram alguns eventos, algumas personagens...enfim, jogaram as coisas de pernas para o ar. Mas ficou excelente, e fiel no que importa.

A moldura do livro é a seguinte: há uma narração no presente, envolvendo os descendentes de Angier e Borden, conduzida pelo filho de um deles, que se encontra com a filha do outro. Nessa narrativa são encaixados dois diários. Primeiro o de Borden, depois o de Angier, em blocos completos. Depois há uma resolução no presente. O Priest escreve muito bem, e você tem um sentimento de cumplicidade muito grande primeiro com o Borden, depois com o Angier. Os dois se colocam como vítimas, e narram a história de forma pouco confiável, mas no final quem vence e surge como mais honesto é o Angier. No filme, os Nolan eliminaram essa moldura em favor de outra, mais complicada (e mais banal), envolvendo o julgamento do Borden pela morte do Angier. Na prisão, Borden tem acesso ao diário de Angier, e no diário de Angier, Angier por sua vez escreve tendo acesso ao diário de Borden. Há um diário dentro de um diário, flashbacks dentro de flashbacks, e comunicação direta entre ambos, por um artifício muito bem bolado que seria spoiler dizer. Desta maneira, os Nolan embaralham os dois blocos do livro e fazem um picadinho interessantíssimo. O truque das argolas, repetido algumas vezes no filme, representa bem a estrutura do roteiro. Que também replica a estrutura em três atos do número de mágica, narrada por Cutter no começo e no final do filme.

Eu sei que muita gente vai sair reclamando do filme por causa do final, mas no fundo The Prestige é ele mesmo um número de mágica cinematográfica, brilhantemente construído. Reclamar do final é cair no truque dos Nolan e confirmar a moral da história: segredos simples são difíceis de se acreditar, mas os complicados são difíceis de se aceitar. As pessoas acabam preferindo os simples, mesmo os intuindo, já que o que importa é acompanhar o número e se deixar deleitar por ele. Deleite por deleite, eu sinto dificuldades para acreditar que alguém não se sinta deleitado com este filme, pelo menos até o final. Prende tanto a atenção que você praticamente cai da poltrona, se aproximando inconscientemente da tela. E basicamente é essa a moral de The Prestige. É possível argumentar que seja um filme vazio, mas não é. The Prestige é um filme-tese quase irretocável, e a tese é interessante e não se aplica apenas a filmes ou números de mágica.

Em relação aos problemas...se os Nolan desconstruíram o livro de forma inteligente, a ordem do livro (e sua moldura) também tinham uma função importante, que acaba sendo perdida no filme. O prestige do número de Borden é simples, beirando ao ridículo, mas fácil de se aceitar. O prestige do número de Angier é mais complicado, requer uma dose extraordinária de suspensão de descrença, e é portanto mais difícil de se engolir. O livro lidava com isso muito bem. O prestige de Borden é revelado no final, depois de pouquíssimas pistas, e me pegou de surpresa. O prestige de Angier não tem muito mistério já a partir de mais ou menos a metade do diário de Angier, e vai sendo introduzido com cuidado, de modo que o leitor tem mais facilidade de aceitá-lo. E também consegue entender melhor o que se passava pela cabeça de Angier, que é um sujeito bem mais interessante e complexo no livro do que no filme.

No filme, os Nolan decidiram colocar uma pista sobre o prestige de Borden em praticamente TODAS as cenas em que ele aparece, e algumas em que ele não aparece. Are you watching closely?, a frase que é repetida várias vezes no filme, é dirigida à audiência. Eu vi o filme já sabendo o segredo de Borden, mas imagino que se não soubesse teria adivinhado facilmente, o que tira um pouco do impacto. Tudo bem que os Nolan querem provar algo com isso, mas dava para cortar metade das trocentas pistas. Se você estiver "watching closely", vai adivinhar com certeza. Já o prestige do truque de Angier é introduzido subitamente demais. Cai do céu, quase que literalmente, e por ser tão radical, fica um pouco chocante demais.

De qualquer maneira, verei de novo pelo menos mais uma vez no cinema, e comprarei o DVD. Se não é o melhor filme do ano, vai ser difícil encontrar um mais inteligente.

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[MOSTRA/SP] Babel

Previsivelmente, Iñarritu não desapontou. Acho que ele vai precisar fazer um filme bem diferente da próxima vez, porque este é muito semelhante aos outros dois em termos de estrutura. Não sei se ele consegue fazer mais um filme nesse esquema e não esgotar a fórmula. Mas como Iñarritu já disse que seus longas compõem uma trilogia, fico mais tranqüilo e espero que o futuro guarde filmes mais diferentes. Isto é, se Iñarritu e o roteirista Guillermo Arriaga não se matarem primeiro. Comparado aos outros dois, achei Babel pior do que 21 Gramas, mas melhor do que Amores Perros. Ou seja, um filme muito, muito bom.

Desta vez os núcleos de personagens são espalhados por lugares diferentes do globo: uma família de camponeses e um casal de americanos no Marrocos, os filhos pequenos do casal americano e sua babá entre os EUA e o México, e um caçador japonês e sua filha surdo-muda no Japão. São várias as línguas faladas, e uma não-falada (sinais), o que justifica o título Babel. Fora isso, também se encaixam no título a incapacidade de comunicação entre as personagens, em relações interpessoais e até globais, e seu oposto, a capacidade de comunicação além da barreira da língua e costumes. É um filme otimista, diga-se de passagem. Ninguém vai sair deprimido do cinema, apesar da série de desgraças que se acumulam ao decorrer da narrativa.

O incidente que dispara as histórias desta vez não é um acidente de carro, mas um tiro de rifle que acaba ferindo gravemente a mulher americana, disparado por um dos filhos da família de camponeses quando testavam a arma. A narrativa é não-linear, não tão perfeitamente particionada quanto a de Amores Perros, mas não tão radical quanto a de 21 Gramas. Fica algo entre os dois extremos, mas é tão bem construída e flui tão solta que você nem percebe as diferenças de tempo entre algumas seqüências, apesar de perceber no final que estava totalmente perdido em relação à distância temporal que separava algumas cenas.

Eu li alguns comentários dizendo que o núcleo do Japão não se encaixa bem na história, e que é a parte mais fraca de Babel, mas eu discordo violentamente. Achei os segmentos japoneses de longe os melhores do filme, com Inãrritu, o diretor de fotografia e o editor soltando a franga em Tóquio, retratando a cidade de forma tão bonita que dá gosto de ver. Não é nem a Tóquio-pesadelo urbano dos filmes japoneses e americanos usuais, nem a Tóquio de vitrine à la Sophia Coppola. A cidade fica vibrante, intensa, e dá um contraste interessante à aridez e ao calor do Marrocos e da fronteira EUA-México. É uma coisa molhada, de cores frias porém fortes, que dá um contraponto gritante aos outros núcleos do filme e até mesmo ao drama interno da protagonista japonesa, sozinha e cheia de mágoas. Funciona, em outras palavras, que é uma beleza, e a narrativa parece desconexa das demais apenas à primeira vista.

Não vou contar mais para não estragar a experiência, é um dos melhores filmes de 2006, que merece ser visto o tão breve possível. Entra em cartaz dia 19 de janeiro.

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[MOSTRA/SP] A Scanner Darkly

Eu chutei que essa ia ser a primeira adaptação realmente fiel de uma obra do Dick para o cinema e acertei...quer dizer, acho. Pena que Scanner não é, na minha opinião, um dos melhores livros do Dick (Three Stigmata of Palmer Eldritch, Ubik, VALIS, A Maze of Death, Doctor Bloodmoney...há vários outros livros melhores). Mas algumas coisas não ficaram muito boas. Já faz um bom tempo que eu li o livro, mas pelo que eu me lembro...

[spoiler]Fred não sabia que Bob Arctor e ele eram a mesma pessoa na maior parte do livro, e isso afetava bastante a mecânica da história. A questão da Donna ser a chefe do Arctor, se eu me lembro bem, não acontecia (achei isso um truque meio barato), e o final era bem mais deprê, com Arctor preso na New Path, que não estava na mira de qualquer investigação policial, sem perspectiva de sair lá um dia. Não tinha essa luz no fim do túnel de guardar florzinha para os colegas, eventualmente entregando uma pista de que havia uma conexão entre a New Path e a Substance D. A New Path termina o livro em pleno domínio da situação, sem que Arctor possa fazer nada a respeito.[/spoiler]

Fora isso, a adaptação me pareceu bem fiel. O filme não consegue abordar tão bem quanto o livro a relação Fred/Bob Arctor, pelo motivo que eu coloquei na caixa de spoiler, mas não deixa de ser bacana. Se for para dar uma nota, 7 em 10.

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Indústria fonográfica processa compartilhadores de arquivo no Brasil

Era questão de tempo: a IFPI anunciou ontem que irá começar a processar usuários de redes p2p também no Brasil. Estão tocando 8000 legal actions (categoria um tanto ampla) ao redor do mundo, envolvendo 17 países. Além do Brasil, a indústria fonográfica atuará pela primeira vez no México e na Polônia. Em território nacional, quem irá cuidar dos processos será a ABDP, que em entrevista coletiva mencionou, além de alguns dados numéricos altamente questionáveis, a intenção de processar vinte usuários de redes de compartilhamento. Todos, supostamente, em dado momento disponibilizaram para upload algo entre 3000 e 5000 músicas. A ABPD não parece estar interessada em quem tem disponibilizado um punhado de discos apenas.

Não se sabe muito bem, até agora, o que de fato ocorrerá, ou mesmo qual a estratégia jurídica da ABDP. O fato de que o CTS (Centro de Tecnologia e Sociedade) da FGV-RJ, apesar de previamente inscrito, foi barrado da coletiva da ABPD, sinaliza que a intenção é espalhar desinformação sobre quais ações serão tomadas. Ao que tudo indica, o objetivo da ABDP é, ao mesmo tempo, testar qual vai ser a resposta do Judiciário para os casos, e intimidar usuários de diversas redes. Shock and awe. A imprensa nacional, em questões de propriedade intelectual, costuma repetir press releases sem o menor pudor e senso crítico. Uma parte que enxerga a situação por um outro ângulo é então impedida de participar da coletiva, por motivos óbvios. Quanto mais desinformação é espalhada, melhor para a indústria fonográfica.

De uma vez, foram mencionadas na coletiva não apenas transferências via torrent, mas também compartilhamento nas redes ed2k e, surpresa, Soulseek. Parece-me difícil alguém compartilhar mais de 3000 músicas via torrent, porque simplesmente não é eficiente. Acho mais óbvio os usuários futuramente processados terem disponibilizado as músicas por meio das redes ed2k e Soulseek, nas quais é mais fácil fazer um levantamento do acervo compartilhado. No caso de transferências via torrent, que envolvem milhares de mini-redes, muitas delas ad hoc, além de ser difícil achar alguém que compartilhe tantas músicas (talvez algumas várias discografias?), há questões de ordem prática interessantes. Para se fazer um levantamento de acervo, seria necessário pegar um tracker privado, consultar a página de um usuário brasileiro, anotar todos os torrents compartilhados por inteiro em dado momento, e baixar um por um (não necessariamente até o final), para ver qual o IP que bate em cada swarm específica. Acho meio difícil eles terem feito isso, até por algumas contingências da administração de seeds múltiplos por clientes torrent.

Mas a questão de que redes teriam sido afetadas é longe de ser a única que se encontra nebulosa. A ABDP/IFPI diz não ter identificado os usuários, de modo que, teoricamente, eles só disporiam, no momento, de alguns números IP. Mas segundo me disse em correspondência pessoal Bruno Magrani, do CTS/FGV-RJ, a intenção parece ser processar civil e não criminalmente, e existe a possibilidade de que a ABDP já se encontre com os nomes dos usuários vinculados a cada IP. Se de fato a ABDP já se encontra na posse destes nomes, há problemas sérios em relação ao fornecimento deles pelos provedores de acesso, sem ordem judicial. Caso a ABDP não tenha os nomes, pergunta-se se não seria uma estupidez processar civilmente sem isolar autoria. Não faz sentido. O caminho usual seria representar pedindo abertura de inquéritos policiais para investigar autoria e materialidade de infrações penais, abrindo caminho para processos-crime, e só depois correr atrás de compensação no cível. O que pode explicar uma relutância em processar criminalmente os usuários pode ser o fato de que o exame de provas, em juízo criminal, costuma ser bem mais rigoroso. Um print screen com uma lista de arquivos nunca vai resultar em uma condenação criminal regular. Não que necessariamente vá funcionar no cível, mas a avaliação do conjunto probatório, de modo geral, é bem mais rígida em sede criminal. Nos EUA faz sentido processar com conjunto probatório precário, porque há uma pressão enorme, pelos custos do processo, de se fazer um acordo antes de uma decisão. No Brasil não existe uma pressão de intensidade semelhante, e a qualidade da prova passa a importar, e muito.

No que tange a questões de direito material, ainda há espaço aberto para a discussão de se houve ou não violação de direitos autorais, apesar da literatura nacional costumar identificar – inconstitucionalmente, na minha opinião – o rol de limitações do art. 46 da Lei 9.610/96 (Lei de Direitos Autorais) como sendo taxativo e não exemplificativo. Isso sem contar na infame definição de “lucro indireto”, no caso dos parágrafos do art. 184 do Código Penal. De todo modo, o CTS está com uma proposta de alteração do art. 46 da Lei de Direitos Autorais, procurando se adequar ao procedimento de três etapas da Convenção de Berna, mas ao mesmo tempo garantindo algum espaço de manobra.

A proposta de alteração é a seguinte:

[quote]Art. 46. Não constitui ofensa aos direitos autorais, a reprodução parcial ou integral, a distribuição e qualquer forma de utilização de obras intelectuais que, em função de sua natureza, atenda a dois ou mais dos seguintes princípios, respeitados os direitos morais previstos no art. 24:
I - tenha como objetivo, crítica, comentário, noticiário, educação, ensino, pesquisa, produção de prova judiciária ou administrativa, uso exclusivo de deficientes visuais em sistema Braile ou outro procedimento em qualquer suporte para esses destinatários, preservação ou estudo da obra, ou ainda, para demonstração à clientela em estabelecimentos comerciais, desde que estes comercializem os suportes ou equipamentos que permitam a sua utilização, sempre na medida justificada pelo fim a atingir;
II - sua finalidade não seja essencialmente comercial para o destinatário da reprodução e para quem se vale da distribuição e da utilização das obras intelectuais;
III - o efeito no mercado potencial da obra seja individualmente desprezível, não acarretando prejuízo à exploração normal da obra;
Parágrafo Único - A aplicação da hipótese prevista no inciso II deste artigo não se justifica somente pelo fato de o destinatário da reprodução e quem se vale da distribuição e da utilização das obras intelectuais ser empresa ou órgão público, fundação, associação ou qualquer outra entidade sem fins lucrativos[/quote]

Há uma petição online para apoiar essa alteração. Enquanto as coisas continuam imprevisíveis, não disponibilizem mais de 3000 arquivos em qualquer rede de compartilhamento, inclusive o Soulseek. Para quem está em trackers privados populares porém obscuros, não vejo motivo para preocupação, mas mantenham o número abaixo de 3000, de qualquer maneira. Caso algum problema surgir, o CTS está estudando a possibilidade de, se não representar diretamente os réus, pelo menos oferecer algum tipo de assessoria jurídica. Se você for um dos 20 felizardos, pode contatar Bruno Magrani via o endereço magrani arroba fgv ponto br para mais informações.

Interessante mencionar que esta ação da IFPI vem, curiosamente, na esteira de uma mega-operação anti-pirataria chamada, sei lá por qual motivo, de I-Commerce (“I” do quê, por gentileza?). Como dano colateral da operação, o maior site de legendas do Brasil, o Legendaz, saiu do ar. Parece que o responsável pelo site também vendia, em um link semi-secreto no mesmo domínio, filmes piratas. Muito inteligente. Alguns outros sites de legenda, e o Compartilhando.org, fecharam por medo de represálias, em efeito dominó. E o maior rival do Legendaz, o Só Séries, festeja não sem uma dose enorme de Schadenfreude, o destino do webmaster do Legendaz.

Juntando um grupo de ações a outras totalmente diferentes - umas contra piratas de verdade, outras contra usuários de redes p2p -, prossegue a associação da pirataria ao compartilhamento de arquivos, algo longe de ser coerente, mas que a imprensa segue perpetuando. Não parece ter sido coincidência que a operação I-Commerce e o anúncio da IFPI tenham ocorrido em sucessão imediata. Sob o rótulo odioso da pirataria, é mais fácil atacar na mídia – e em juízo, se o juiz for desinformado – milhares de usuários de redes de compartilhamento. Estratégia de propaganda básica, mas eficaz.

Os efeitos, para o futuro: nulos, se estivermos considerando o impacto na proliferação de redes [.pdf]. Alguns compartilhadores serão processados e talvez condenados, ouviremos muita bravata da indústria do conteúdo, o compartilhamento quem sabe seja ainda mais estigmatizado pela imprensa, mas de resto, tudo continuará como antes. Não há mais volta [.pdf].

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Feed RSS: agora na página Contribuições Recentes

Como bastante gente assina feeds aqui no Joio, e hão havia uma para a página mais acessada do site, Contribuições Recentes, a administração disponibiliza a partir de hoje esta nova feed:

http://www.joio.com.br/?q=trackerrss

Acompanhar a página Contribuições Recentes é a melhor maneira de ficar por dentro de tudo o que acontece no Joio, e a tarefa fica agora mais fácil e conveniente.

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Lucasfilm abandona o cinema

A empresa de George Lucas concentrar-se-á de agora em diante em produções para a TV e Internet. Lucas acredita que o hábito de ir ao cinema está morrendo, e quer fazer de Indiana Jones IV a última produção da Lucas para o cinema. Daqui pra frente, apenas produções menores, a serem preferencialmente baixadas em um esquema pay-per-view, pay-per-download. Mas ele ainda está cauteloso em relação à Internet, e com os olhos mais voltados para a TV:

[quote]That doesn't mean Lucasfilm is diving into online distribution, though. "Having had a lot of experience in this area, we're not rushing in," he said. "We're trying to find out exactly where the monetization is coming from. We're not interested in jumping down a rat hole until such time as it finally figures itself out."[/quote]

Creio que talvez no futuro as massas abandonem mesmo o hábito de ir ao cinema, mas sempre vai haver mercado, nem que seja um nicho bem diminuto, para exibições em tela grande. De todo modo, as melhores coisas produzidas atualmente nos EUA são mesmo para a TV. Séries recentes e atuais como Lost, 24, The Office, Six Feet Under, Battlestar Galactica e Veronica Mars têm sido bem melhores do que a maior parte dos filmes hollywoodianos e produções independentes americanas. Quem sabe não seja um primeiro passo para a extinção do blockbuster-monolito, não no futuro próximo, mas daqui a umas duas décadas...

Agora, o Lucas podia mesmo é criar vergonha na cara, e ressuscitar a era de ouro dos adventures na Lucasarts. Eu até compraria os jogos originais.

Variety

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Pré-selecionados do Brasil ao Oscar 2007

Vai um desses:

[quote] A Máquina, de João Falcão
Anjos do Sol, de Rudi Lagemann
Bens Confiscados, de Carlos Reichenbach
Cinema, Aspirinas e Urubus, de Marcelo Gomes,
Cafundó, de Paulo Betti e Clóvis Bueno
Depois Daquele Baile, de Roberto Bontempo
Doutores da Alegria, de Mara Mourão
Estamira, de Marcos Prado
Irma Vap, de Carla Camurati
O Maior Amor do Mundo, de Cacá Diegues
Tapete Vermelho, de Luiz Alberto Pereira
Vida de Menina, de Helena Solberg
Zuzu Angel, de Sérgio Rezende[/quote]

Nãoi vi nenhum, mas ouvi vários elogios de Cinema, Aspirinas e Urubus.

Fonte

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MetaMachine entra em acordo com a RIAA

MetaMachine, a empresa que nos deu o eDonkey, entrou em acordo com a indústria fonográfica americana. A brincadeira ficou em TRINTA milhões de dólares, algo na minha opinião imoral. Principalmente se formos considerar que a MetaMachine apenas providenciava a tecnologia, cobrando por uma versão com mais recursos do cliente gratuito. E só.

Desde que o eMule criou asas e levantou vôo, o eDonkey e o cliente 100% distribuído Overnet, também da MetaMachine, deixaram de ter razão de ser. A rede ed2k pôde ser acessada via eMule (dentre outros clientes) e floresceu, e uma outra implementação do algoritmo Kademlia, base do Overnet, deu origem à rede Kad, que pode ser acessada via eMule, em paralelo à rede ed2k. Mas a MetaMachine foi quem criou a rede, uma das melhores desde o surgimento do Napster, e até hoje uma das principais alternativas para quem quiser baixar qualquer coisa, e a única opção para quem quer alguns arquivos mais raros (o repertório da rede ed2k é espantoso). É mais devagar que um torrent com várias fontes, mas é uma rede constante, segura, bem populada e extremamente funcional. Quem reclama não sabe do que está falando, ou nunca precisou de um arquivo mais obscuro.

Esse acordo é mais um reflexo do caso MGM v. Grokster [.pdf], que tornou praticamente impensável qualquer modelo de negócios baseado em redes p2p (nos EUA), caso haja a mínima suspeita de lucro sobre conteúdo intelectual alheio, sem obtenção de licença. Duas modalidades de violação indireta de direitos autorais (contributory ou vicarious copyright infringement) são presumidas, no raciocínio da Suprema Corte, se o programa é apto à troca de conteúdo protegido e a empresa não toma cuidados para que esse conteúdo não trafegue pela rede, ou simplesmente dá a entender que está incentivando, ainda que indiretamente, a troca deste material.

Clientes de software livre persistem, pela difusão de responsabilidade que geralmente existe nos projetos (quem responsabilizar, afinal?), e porque geralmente não há uma empresa por trás de tudo, controlando a rede diretamente (ao contrário da rede FastTrack, por exemplo, ou do exemplo clássico Napster). Se a tecnologia é livre, fica difícil aplicar o precedente estabelecido em MGM v. Grokster, confirmando a tese de Lawrence Lessig [site em manutenção no momento] de que código aberto serve como freio e contrapeso às possibilidades de regulação e controle por código fechado. Resta à indústria de conteúdo processar os usuários por violação direta de direitos autorais, que é o que eles têm feito nos EUA e Europa.

O monstro já está à solta. A morte da MetaMachine é totalmente irrelevante, no cenário atual. Esses processos são uma boa fonte de receita para a indústria de conteúdo, mas eles já estão ficando sem ninguém para processar, no que concerne à infra-estrutura tecnológica do compartilhamento de arquivos.

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Novidades Apple

Nada muito bombástico. À primeira vista, pelo menos.

Filmes no iTunes e um aparelho chamado iTV (um player wireless para vídeos que se conecta à TV) são as maiores novidades. Há upgrades na linha de iPods, mas não é nada tão extremo quanto o salto entre a quarta e quinta gerações. 80 gigas para o modelo mais caro de iPod (parece criado especialmente para os usuários das redes de compartilhamento...acreditem em mim, 60 gigas já são suficientes para este heavy user do OiNK, quanto mais 80). Redesign radical no Shuffle, e os Nanos agora estão com uma carinha de iPod Mini, mas fora isso...Anunciaram funções de busca que eu acredito vão estar disponíveis para os iPods de quinta geração via update de firmware. Já os novos jogos anunciados (coisas boas como Bejeweled e Zuma), talvez sejam algo só para os iPods de sexta geração. Se bem que, não há muito motivo para os iPods de quinta não suportarem, o hardware agüenta. Rodando Doom, deve rodar Bejeweled.

Os filmes e séries no iTunes + iTV podem render uma grana boa para a Apple. Particularmente as séries, creio. Dizem eles que vão expandir para o mercado internacional em 2007. Eu me interessei pelo iTV, mas se só for rodar Quicktime é meio goiaba. Provavelmente alguém lança um outro firmware para rodar outros formatos, mas vou esperar antes de fazer qualquer investimento. Se o aparelho rodar XviD eventualmente, eu compro o mais rápido possível. De todo modo, para o mercado americano pelo menos é algo que vai deixar algumas pessoas, principalmente emissoras de TV, com muito medo...É do tipo de coisa que, se pega, subverte vários modelos de negócio já consolidados. Vai haver um BOOM (em letras maiúsculas mesmo) de video podcasts, que são inúteis para se ver no iPod (aliás, vídeo no iPod não rola, sinto muito), mas na TV vão se encaixar muito bem. Produções independentes vão ganhar distribuição global EXTREMAMENTE facilitada. Pensando bem, é bombástico.

Além dessas novidades, há o iTunes 7, um upgrade ao que tudo indica substancial da versão 6. Há vários novos badulaques por causa da loja de filmes, e um modo de navegação por capas de disco que parece bacana. Tenho usado muito o Foobar ultimamente, por causa do suporte a FLAC (maravilha!) e porque não atrapalha as tags (de vez em quando o iTunes faz bons consertos automáticos, mas acaba prejudicando o hash dos arquivos, e não consigo mais ficar como seed em torrents). Mas como sempre uso o iTunes para interagir com meu iPod, vou correndo baixar a versão 7. Que já vem com o iPod Updater embutido (o atualizador de firmware).

Acho que é basicamente isso. A última coisa interessante é que, se você tiver uma conta na loja iTunes, fizer o rip de um CD e não tiver a capa, a loja manda a capa automaticamente para você. Legal o apoio da Apple para o direito de cópia privada.

Os novos iPods você pode ver aqui.

Fotos da apresentação, aqui.

EDIT.: Instalei o firmware novo, 1.2, e é possível jogar os novos jogos. Só que você precisa comprá-los. Fora isso, a grande novidade é gapless playback. Funciona direitinho, testei com o Kid A do Radiohead. A função de busca não está disponível, aparentemente, mas pra falar a verdade é desnecessária.

EDIT. 2: E agora, quando você usa a wheel para navegar pela sua lista de músicas, aparece a letra em que você se encontra na ordem de exibição, no meio da tela. Lindo e elegante, bem Apple. Mas totalmente inútil. 

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Foto de quase nada

Vôo United 93

Eu adoro filme desgraça, explosão, morte, bomba, bumba, lepra, tiro, tortura e etc, ver esse tipo de filme é revigorante, é como assistir Cidade Alerta, pois vc logo pensa "nossa, que bom que não sou eu que ta se fudendo", vc não fica com pena, muito pelo contrário, vc fica alegre da sua situação confortável. Mas esse filme é tão bom que até eu fiquei levemente marejado, é um filme desgraça feito de forma respeitosa, mas pouco melosa, sem nunca perder o vigor e com uma montagem brilhante, lembrando até um bom episódio de 24 horas. Não tem nenhum ator conhecido, não é um filme pastel com trejeitos de blockbuster (como deve ser o Torres Gemeas). Não sou muito fã de filmes tremidos (antigamente a moda era "estilo mtv", agora é "estilo documentário"), não gosto, nos últimos anos tem saído uns filmes que eu só vejo depois de tomar um dramin, não que isso atrapalhe o rendimento desse Voo 93, até pq vou dar nota 10. Esse filme é tão tenso que vc chega a torcer, mesmo já sabendo na merda que vai dar.

nota: 10 (se a cada grande desgraça fizerem um filme bom desses, espero que derrubem mais aviões.)
nota de breguice: 2 (os terroristas parecem o El Tcholo do Miame Vice, francamente, não sei distinguir um árabe de um mexicano, o mais ridículo é que o cara, após sequestrar o avião, põe uma bandana na cabeça, estilo Rambo, até ai tudo bem, mas a cena deles se depilando é bem gay)
chucometro: 7 (se chuck estivesse a bordo do voo 93, ele não só derrubaria o avião, como faria isso em cima do Irã)

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Foto de quase nada

Silent Hill

Minha sensação vendo esse tipo de filme deve ser igual a da sua mãe vendo um filme com o Richard Gere. Joguei os 4 silent hill's e sou fanzoco da série.

Mas o filme é ruim que dói, tem umas coisinhas legais, mas o resto é um fiasco, desrespeita o material original, é chato, bobo e falha desgraçadamente ao tentar passar um clima de suspense.

- No jogo, a cidade não é povoada, mas o Silent hill do filme tem mais gente que a Bahia. O clima de desolação vai por água abaixo quando começa a aparecer dezenas de personagens (o mesmo erro do Land of The Dead) rola até um churrasco.
- A trama paralela envolvendo o marido da protagonista é desnecessária e chata.
- A história é ruim e não tem nada de complexo, o final não é aberto, é até muito mais auto-explicativo do que deveria ser, o Ebert é meio burro. Não precisa de nenhuma teoria mirabolante pra entender esse filme. O pessoal que não ve cinema asiático fica meio tapado.
- CGI porco, beirando o constrangedor, as baratas gigantes (que seguem o Pyramid Head) são do nível daqueles escaravelhos do Retorno da Múmia. Deve ter sido coisa de produtor "vamos botar umas baratas gigantes pra deixa-lo mais grotesco".
- Aquele efeito morph, que aparece quando as paredes estão se transformando, dá pra fazer na minha geforce 6.

Mas nem tudo é desgraça.

- As músicas são boas, aquele trip-rock baixo astral de sempre.
- O Pyramid Head tem boas cenas (apesar das malditas baratas de cgi) uma delas é clássica.
- A cena do arame farpado ficou legal, é meio clive barker, meio Hellraiser, meio plague ragues.
- Pega no tranco no terço final.

Nota 4,63 (Não ficou bom, é muito longo e embanana a história original, pega elementos dos 2 primeiros jogos e faz uma micarê, ficou bobinho. Um japa teria feito um silent Hill melhor, mas a grana falou mais alto no ouvido da konami.)
Bregometro 8 (atores ciganos, tem uma sósia da naomi Watts que me deu pena. Eu ri alto numa hora que uma velha chama uma mulher de bruxa e faz com os dedos o simbolo de heavy metal. A coreografia das enfermeiras ficou daiane dos santos de tão ridículo, eu pensei que elas iam dançar thriller. O nome da protagonista é Rose "da Silva", ai é pedir pra apanhar.)
NCN 1 (não assusta, não diverte.)

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Foto de Guybrush Threepwood

The Elder Scrolls IV: Oblivion

Taí um jogo que eu não sabia muito se ia gostar ou não. As críticas tem sido incrívelmente positivas, mas até então eu tinha lido que era um RPG totalmente não-linear, gigantesco e em primeira pessoa, características que não me empolgam muito num jogo do gênero (eu prefiro os semi-lineares, de médio tamanho e em terceira pessoa, tipo Knights of the Old Republic ou Vampire: Bloodlines).

A verdade é que sim, o jogo possui essas três características, mas nem por isso deixei de gostar muito. Instalei ele essa manhã, e estou a quase oito horas jogando ele non-stop - e o mais interessante é que até agora não realizei nem a PRIMEIRA QUEST PRINCIPAL (que é muito simples, é só levar um amuleto para mostrar prum cara numa cidade vizinha). Ao invés disso, depois de perder uma boas três horas ajustando o personagem do jeito que eu queria (o jogo permite um nível de customização muito grande, e pode ser trabalhoso deixar um personagem do jeito que você quer - eu comecei a jogar com um e me arrependi, começando o jogo de novo com um personagem diferente mais duas vezes), eu fiquei só explorando o gigantesco universo do jogo. Basicamente, você pode seguir três caminhos principais: o do combate, e fazer um personagem Guerreiro, Cavaleiro, Bárbaro ou qualquer coisa relacionada à porrada; um mágico - seja ele um Feiticeiro, um Alquimista ou outras especializações; ou um perito em furtividade, tipo um Ladrão, um Assassino ou um Agente. Ou então, crie uma classe totalmente sua, misturando ou não qualquer um desses três caminhos. Faça um ninja, por exemplo, mixando um personagem stealth com combate com uma pequena dose de alquimista (para fazer venenos). Ou um Battlemage, com conhecimento de magias mas também bom de espada. A questão é: são tantas opções que você acaba nem sabendo o que vai querer. E jogar com ênfase ou em combate, ou em stealth, ou em magias é uma experiência MUITO diferente - por isso, escolha bem.

Bom, personagem pronto, parti para o jogo. Depois de uma pequena introdoção/tutorial, onde recebemos a primeira missão da história principal, o jogo te larga no mundo e fala: "te vira". Daí, eu comecei a dar um rolé pelos vastos campos do jogo: descobri ruínas que serviam de esconderijo para um bando de bandidos, os quais matei e pilhei seus itens; achei uma caverna secreta repleta de tesouros (e traiçoeiros Imps); fiz algumas subquests na Imperial City, uma das quais precisei investigar um comerciante que vendia seus bens a preços irrisórios e que estava causando irritação entre os mercadores locais. E agora, SÓ AGORA, depois de oito horas, resolvi seguir a quest principal. E nem tinha visto o tempo passar - o jogo te absorve totalmente. É um mundo vivo, amplo, com uma atmosfera incrívelmente convincente.

Claro, vale lembrar também os gráficos e efeitos sonoros fantásticos - é o jogo mais bonito para PCs atualmente (não, ainda não joguei o Prey). Ainda estou com um pouco de medo a cerca do tamanho do jogo (geralmente enjôo de jogos muitíssimo grandes), mas com certeza esse Oblivion vai me manter ocupado por um bom tempo.

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Foto de Bennett

Rinjin 13-gô

Um dos filmes mais bacanas que eu vi esse ano é essa impressionante estréia na direção do japonês Yasuo Inoue. O cartaz americano diz que é uma mistura de Oldboy com Fight Club, mas está mais para uma mistura de O Médico e o Monstro com O Inquilino. E toques de Sexta-Feira 13. Desde os primeiros momentos, esse filme é absolutamente hipnótico. Não é original e não é nada do outro mundo, mas é indiscutivelmente intenso, bem executado e divertido (se você considera duas horas de pura aflição como diversão - eu considero). As críticas que eu tenho lido têm sido bem mornas, mas eu adorei o filme do começo ao fim. Quer dizer, o fim nem tanto, mas isso fica para mais tarde....

Os primeiros 5 minutos causam uma sensação de estranheza do tipo "Mas que COISA é essa?". Eu não vou descrever, e nem dar muitos detalhes da trama, porque é do tipo de filme que é melhor ver sem saber muita coisa. O IMDB lista Rinjin 13-gô (cuja tradução literal é "O Vizinho Número 13") como um filme de horror, e apesar de isso não ser errado, está mais para um suspense ou - horror dos horrores -, um "thriller psicológico" (odeio o rótulo). Não é exatamente um filme de horror, mas é um filme horrível, no bom sentido da palavra. E quanto mais atroz vai ficando, mais interessante.

Baseado em um mangá, o filme conta a história de Murasaki, um rapaz que sofreu na infância inúmeros abusos na escola, vitimizado diariamente por uma gangue de delinqüentes que é uma graça de se ver em ação. Traumatizado, Murasaki cresce e acaba desenvolvendo uma segunda personalidade. O Murasaki 2 (que nos créditos do filme tem o nome "Número 13") é um ser totalmente psicótico, surtado, monstruoso física e mentalmente, mais forte que Lion e He-Man juntos. Quando Murasaki 1 se vê acuado, Murasaki 2 vem a tona. E o que segue é puro caos.

O filme começa quando os Murasakis (interpretados por dois atores diferentes) se mudam para um novo prédio, no apartamento 13, para trabalhar em um novo emprego, de pedreiro. Tudo anda tranqüilamente na vida dos Murasakis até que eles reconhecem no chefe da construção onde trabalham o líder da gangue juvenil que atormentara Murasaki 1 no passado. O líder, Akai, está crescidão, com mulher e filho, mas comporta-se exatamente da mesma maneira como se comportava quando criança. As obras que ele comanda são um reino de horror em que ele faz as vezes de um déspota sádico. Nas horas vagas, Akai comanda uma gangue de motoqueiros muito pouco razoável e agradável, que provavelmente você não gostaria de encontrar em um beco escuro. Já não fosse esse um grande problema na vida dos Murasakis, eles descobrem que Akai também acaba de se mudar para o apartamento acima, número 23. Os Murasakis reconhecem Akai, mas Akai não reconhece Murasaki 1, que é apenas mais uma irrelevante vítima pretérita em uma extensa lista. Akai não reconhece Murasaki 1, mas em breve, como é fácil adivinhar, vai ser apresentado a Murasaki 2...Mas esse é apenas o setup inicial.

Rinjin 13-gô é um filme bastante lento, com ritmo muito bem estudado, mas o tédio nunca aparece, embora eu tenha lido gente reclamando. No meu caso, prendeu a atenção e não largou mais. Duas horas passaram voando. Há uma sensação horrorosa de desastre inevitável, que vai ficando cada vez mais pesada, quase insuportável, e é tremendamente bem explorada pelo diretor, com o auxílio de um elenco impecável. O Murasaki 2, Shido Nakamura, que em breve vai aparecer em um dos dois novos filmes de Clint Eastwood, Red Sun, Black Sand, é um ator notável, que intimida pela própria presença física. Não que o resto dos atores decepcione, mas Nakamura é particularmente impressionante como o insano Murasaki 2.

Se há alguma coisa que é francamente lamentável no filme, talvez seja o final. É um daqueles finais com virada na trama que acabam estragando um pouco o filme como um todo. Eu confesso que ele até me causou um certo alívio e paz de espírito, mas não deixa de ser um pouco covarde...chega até a ser bonitinho. E ser bonitinho depois de um festival de atrocidades não é algo que encaixa muito bem. De todo modo, é um defeito pequeno em um filme tão imersivo e nervoso quanto este. Vi o director's cut, e não sei se as diferenças são radicais em relação ao corte de cinema, mas parece que essa é a versão a ser assistida.

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Foto de Bennett

Reflexões pseudo-sociológicas sobre a comunidade Guild Wars

Sucumbi à total nerdeza.

Depois de um fim de semana inteiro vendendo um item especial do evento de Natal de Guild Wars, as infames candy canes (removem toda a penalidade por morte, 1k cada!), que eu havia armazenado durante as celebrações, tomei gosto pelo mercado e decidi vender alguns itens que eu consegui recentemente...no eBay de Guild Wars, o Guild Wars Guru Auctions:

Notem a armadura que minha personagem está usando nas fotos...é uma das famosas armaduras de 15k (15k por cada uma das 5 peças, mais uma soma vultosa de ouro em itens raros para a confecção, mais cerca de 40k em tinta preta - porque é super-ultra-fashion ter uma armadura toda preta). Metade do dinheiro das candy canes, que me fizeram rico de um dia para o outro, foi gasto nessa armadura. Que não tem nível de defesa mais forte, apenas é mais desejável porque é sinal de status. Estou achando uma coisa BIZARRÍSSIMA essa minha incursão pelo mundo dos MMORPGs, porque realmente é um microcosmo da vida real - com anões e dragões -, fiel até nas futilidades.

Essa minha armadura é o equivalente de um terno Armani na vida real. Eu precisava comprar? Não. Podia gastar o dinheiro comprando skills, fazendo coisas mais úteis. Mas...decidi que minha personagem merecia isso. Sei que é totalmente babaca e irracional, algo que eu nunca faria na vida real, mas o ambiente virtual de Guild Wars me dá um impulso irresistível de agir uma patricinha fútil. Como é muito divulgado, esses MMORPGs em parte são uma grande brincadeira de bonecas para adolescentes espinhentos.

O end-game de Guild Wars - ou seja, aquilo que você faz depois que termina o jogo - é totalmente orientado por grana. O mercado acaba virando um jogo em si, e as cidades viram uma mistura de shopping center com bazar. Muita gente querendo vender coisa, muita gente querendo comprar, e mais importante, gente querendo se mostrar. Quando aparece outra monk com a mesma armadura que a minha usa, eu até sinto uma certa tristeza. Sim, é uma coisa meio gay, apesar dos aborrescentes que povoam o jogo não perceberem isso. Aborrescentes homens, porque MMORPGs são um fenômeno predominantemente masculino, apesar de mulheres estarem começando a embarcar de corpo e alma em jogos como World of Warcraft (que atualmente é quase um Orkut americano).

Mas não se exibe apenas armaduras e itens. Agora, com Factions, também temos "títulos". Pequenos trechos de texto que são exibidos abaixo do nome do seu personagem, e que representam coisas das mais absurdamente inúteis que você pode fazer no jogo. Quase todas dão um trabalho medonho (tipo explorar 100% do mapa, ficar bêbado por mais de 1000 minutos, perder 100000 jogos de azar, etc.), mas também são símbolo de status. Você escolhe que título quer exibir, e os mais difíceis causam admiração e espanto. Eu só tenho um até agora, Tyrian Explorer (60% aberto do mapa de Tyria), e não ligo para isso. Mas há pessoas obcecadas por títulos, e que gastam muito, muito ouro para, por exemplo, comprar bebida e ficar bêbado para ganhar o título Pinguço Plus.

Além de exibições de armadura e títulos, as cidades são cenário para exibições de dança coletiva, jogos de siga o líder, papel, tesoura e pedra, simulações de praia de nudismo, etc. Mas esses são momentos de lazer: todo mundo vai trabalhar para conseguir mais grana e comprar os acessórios da moda (tipo as espadas que eu estou tentando vender). Trabalhar significa "farmar", ou seja, "to farm":

  • matar monstros para conseguir "drops" (armas, ouro, escudos, itens raros);
  • fazer "chest runs" (correr pelo mundo afora procurando baús de tesouro para abrir - chaves custam grana e o investimento raramente compensa, mas de vez em quando você acha ótimos itens que podem transformá-lo em um trilhardário da noite para o dia);
  • procurar chefes para, quem sabe, conseguir um "green drop" (itens especiais que apenas chefes dropam, e que são raríssimos);
  • fazer "runs" (levar jogadores de carona de um canto a outros do mapa, por grana);
  • barganhar no mercado (bem no estilo "La garantia soy yo").

Enfim, além do jogo normal (PvP, player versus player, e PvE, player versus environment), há esse componente social totalmente bizarro, que é tão idiota quanto é viciante. E isso porque Guild Wars não é um MMORPG no sentido técnico da palavra, e é amigável a jogadores casuais. Jogos mais hardcore como World of Warcraft são mais desesperadoramente imersivos e conseguem construir um ambiente virtual muito mais convincente. Guild Wars ainda tem um jogo por trás de toda pavonaria, mas WoW é coisa séria. É trabalho, é drama, é um outro mundo, para quem não gosta muito desse aqui (as pessoas até se casam em WoW). Ironicamente, é exatamente o mundo real que criou esses outros mundos virtuais, e o fato de que trocentos milhares de jogadores preferem, em relação a ele, uma floresta com elfos com os mesmos defeitos da vida em carne e osso, é algo que está rendendo e vai render um monte de artigos acadêmicos que ninguém vai ler, ou vai ler e esquecer em 24 horas (tipo aquelas teses sobre o disco Araçá Azul, do Caê).

Além de todo esse aspecto mariposa glamourosa que é o Guild Wars Mall, também há um aspecto político. Os jogadores não têm nenhuma influência na vida política das cidades (meio redundante, eu sei), que seguem o script do jogo, mas os assuntos internos de guilda são outros. Há hierarquias internas e externas, disputas, picuinhas, trabalho (do tipo "Farme 5000 faction Kurzick ou Luxon diariamente ou seja expulso da guilda, escravo!"), jogos obrigatórios com horário marcado, etc. Eu não me envolvo muito com a minha guilda, porque é mais relaxada e também porque não tenho saco. Mas para quem quiser brincar de chefe e político, é um playground.

Assim é a vida em Guild Wars. Se algum dia eu mandar um email para vocês com as palavras "Socorro, estou preso em Cantha!", por favor liguem para o Virtua e peçam para desligarem minha conexão.

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