PRODUTOR FALA SOBRE "STREET IV" E 'SE DESCULPA' POR BLANKA
THÉO AZEVEDO
Enviado especial a San Francisco
Alguns produtores japoneses são, por assim dizer, exóticos, como Tomonobu Itagaki ("Ninja Gaiden 2"), enquanto outros não costumam ter lá muito bom humor, caso de Hironobu Sakaguchi ("Blue Dragon"), mas há aqueles simples e simpáticos. Yoshi Ono é um deles: na última sexta-feira (22), durante a GDC 2008, ele recebeu o UOL e a Editora Europa para uma entrevista, na qual falou sobre "Street Fighter IV", game do qual é produtor e, no final, até pediu desculpas aos brasileiros sobre Blanka.
Confira a entrevista, que ainda abrange assuntos como o número de lutadores de "Street Fighter IV" e as possíveis (para não dizer prováveis) versões do game para consoles:
UOL: Fale sobre o início da produção de "Street Fighter IV".
Yoshi Ono: Quando começamos a falar sobre o projeto, haviam se passado dez anos desde o lançamento de "Street Fighter III" e quinze anos desde "Street Fighter II". É muito tempo. A série poderia oferecer mais: fizemos o possível em "Street Fighter III", mas o game era muito focado nos jogadores "hardcore". O sr. [Keiji] Inafune que, como você deve saber é o produtor e criador de "Mega Man", e hoje ocupa um cargo muito alto na Capcom, disse um dia: "Ei, acho que devemos preparar algo para o 20º aniversário [do 'Street Fighter' original]".
Eu sempre trabalhei como "Street Fighter", um pouco na série "Alpha" e em "Street Fighter III", e, pessoalmente, sempre quis voltar à franquia. Então, quando o sr. Inafune apresentou o projeto, eu imediatamente me ofereci para trabalhar. Fui o primeiro a levantar a mão. Foi assim que tudo começou e estou muito feliz por participar da produção.
UOL: Como você encarou a grande responsabilidade de dar continuidade a uma série tão famosa e importante?
Ono: É realmente uma grande responsabilidade e há muita pressão, tanto dos fãs quanto da própria companhia. Além disso, existe uma "pressão pessoal", pois, como disse, sou um grande fã da série e vim para a Capcom justamente para trabalhar com "Street Fighter". Eu já produzi outros grandes games, como da série "Onimusha", e há muita pressão, mas nada como "Street Fighter". É uma responsabilidade enorme e eu a levo muito a sério.
UOL: "Street Fighter IV é mais focado nos antigos ou novos fãs?
Ono: Procuramos expandir o máximo possível o interesse, fazendo um jogo voltado tanto para os antigos quanto para os novos fãs. É claro que o game é muito parecido com "Street Fighter IV", e isso foi feito com a intenção de conquistar novamente antigos fãs, pois nós os queremos de volta.
Mas também queremos os novos fãs. O que aconteceu com "Street Fighter III", que foi a "mãe" dos jogos de luta após "Street Fighter II", foi que o mercado ficou muito focado nos jogadores "hardcore", com um nível de dificuldade muito maior. O que estamos tentando fazer é diminuí-la um pouco e, simplificando o game, será mais fácil para as pessoas conseguirem se envolver. Certamente os fãs antigos podem jogar e logo se lembrarem do velho "Street Fighter II".
Muitas pessoas que jogaram "Street Fighter II" têm hoje 30 ou 40 anos, e têm filhos, e nós esperamos que eles ensinem suas crianças a jogar - mais ou menos quando você vê pais e filhos (ou avôs e netos) jogando xadrez juntos. Por isso queremos expandir a audiência, mas mantendo recursos como as barras e os combos para os fãs "hardcore".
UOL: "Street Fighter IV" já está sendo produzido para outras plataformas?
Ono: Ainda é muito cedo para falar sobre conversões, pois atualmente estamos trabalhando apenas na versão para fliperama, que será lançada neste verão [entre julho e agosto] no Japão e possívelmente em outras regiões do mundo. Mas, a julgar pelos gráficos, os consoles de alta definição [PlayStation 3 e Xbox 360] vão servir muito bem. Porém, para manter nossa idéia de expandir o público o tanto quanto for possível, com certeza vamos abrir a possibilidade de levar "Street Fighter IV" para muitas plataformas - e, como não se trata apenas de gráficos, não vamos nos limitar apenas às máquinas de alta performance, mas infelizmente ainda é muito cedo para falar sobre o assunto.
UOL: Como você conciliou a tarefa de mudar o estilo de "Street Fighter" para este visual parecido com desenho animado sem perder a essência da série?
Ono: Em primeiro lugar, de forma a preservar o clima de "Street Fighter II", os trajes são os mesmos. "Street Fighter III" foi um grande game, mas infelizmente muitos fãs não jogaram. Há muitas razões para isso e o que nós decidimos foi voltar à segunda versão para buscar inspiração e tentar replicar o fascínio do jogo novamente.
Pessoalmente, adoro "Super Street Fighter II Turbo", é o meu favorito, pelo balanceamento, pelo visual e por sua essência, de uma forma geral. Então, o que estamos tentando fazer é trazer isso de volta, mas com a tecnologia atual. Como você sabe - basta ver jogos como "Devil May Cry 4" e "Bionic Commando" -, a Capcom tem alta tecnologia em mãos para gerar gráficos realistas, mas nós queremos fazer uma aproximação diferente.
"Street Fighter" sempre foi uma série conhecida pelo design bacana, principalmente dos personagens. Então, como podemos retomar isso e, com a tecnologia atual, levar essa qualidade um nível além? Foi esse questionamento que deu início ao progresso que você viu agora. Por isso, optamos por esse visual cheio de cores em detrimento de algo realista.
Bem, todo mundo lembra o quanto "Street Fighter II" era legal. E continua sendo: basta baixar a versão para Wii, no Virtual Console, e conferir. Porém, pode não soar mais tão bom quanto era. Você sabe: muitas vezes nossa memória torna muito melhores certas coisas bacanas que registramos, então dentro da nossa cabeça e do nosso coração, elas parecem ficar bem maiores. O que queremos fazer é um "Street Fighter" tão bom quanto aquele que você tem registrado em sua mente, através da tecnologia atual.
UOL: Qual o status da versão que testamos? Haverá mais lutadores ou personagens secretos?
Ono: A produção não está nem perto do fim. Ainda estamos trabalhando principalmente, no sistema Focus [golpe acionado com os botões centrais de soco e chute pressionados simultâneamente] e o estilo de arte.
Sobre os personagens, ainda não queremos falar muito, mas se você notar, na tela de seleção de personagens, há oito na parte superior e apenas dois na inferior. Há muito espaço livre, que não vai ficar assim por muito tempo.
UOL: Fale mais sobre o balanceamento do game.
Ono: Olhando para o passado, verdadeiros gênios trabalharam em "Street Fighter" e fizeram um grande trabalho em termos de balanceamento, um trabalha tão fantástico que até hoje temos como referência. Este trabalho de ajuste não é fácil: voltado à analogia com o xadrez, você joga com as mesmas peças, mas têm diferentes estilos, então muita gente gostar pensar bastante e mover as peças lentamente, enquanto outras preferem movê-las rapidamente.
Os personagens de "Street Fighter" são análogos aos diferentes estilos de jogar xadrez. Logo, há muita gente que gosta de jogar estratégicamente, de forma mais lenta, e escolher Zangief, por exemplo, enquanto outras preferem um estilo arriscado e veloz, como o de Blanka. O que tentamos fazer é oferecer o máximo possível de opções, mantendo o balanceamento.
UOL: "Street Fighter é muito popular no Brasil, você sabia? Poderia deixar uma mensagem para os fãs de lá?
Ono: Sim, eu sei que "Street Fighter" é bem popular no Brasil. Na época do "Street Fighter II", muitas das máquinas produzidas era para o Brasil, então eu sabia que tínhamos muitos fãs por lá.
Sobre uma mensagem para os brasileiros, bem, eu gostaria de me desculpar, pois sei que Blanka parecer ser um personagem estranho e não quero que nenhum brasileiro se sinta desconfortável com isso. Quando Blanka foi concebido, sabíamos que havia floresta no Brasil, então pensamos que ele poderia parecer assim. Estava até um pouco nervoso ao saber que encontraria jornalistas brasileiros [risos gerais].
Bem, mas sobre a mensagem, este é o primeiro "Street Fighter" em dez anos, então gostaríamos que todos os fãs jogassem, inclusive os brasileiros, que são muitos.
UOL: Obrigado. Bem, mas saiba que os brasileiros adoram Blanka.
Ono: Ah, que bom! Tinha até medo de apanhar quando se fosse a São Paulo [mais risos].