Old Joy (2006, de Kelly Reichardt)

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Stryder
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Old Joy (2006, de Kelly Reichardt)

Uma das coisas mais tristes no mundo é o momento em que você descobre que uma amizade acabou. Seja qual tenha sido o motivo ou a forma - se repentinamente ou não - a sensação de saber do fim de uma amizade é desoladora. É ainda mais triste quando só uma das partes se empenha em tentar manter o relacionamento. Em Old Joy, por exemplo, Kurt e Mark só se reencontram porque Kurt toma a iniciativa de um telefonema. Se Kurt nunca tivesse ligado para Mark, este teria continuado sua vida tranqüilamente. Ele agora tem uma nova vida, com esposa e um filho que está para nascer. Kurt, ao contrário, parece que só tem o passado e as pessoas que nele estiveram. A amizade entre os dois não existe mais, e nós descobrimos isso ao mesmo tempo em que eles, daí fica difícil não gostar de Kurt e de seu esforço para mantê-la.
Além do fim da amizade, talvez o maior problema esteja no fato de que Mark não é mais sincero. Ele age, conversa e sorri para Kurt da mesma forma que nós fazemos quando estamos diante de pessoas que não temos o mínimo interesse em manter uma relação mais íntima. Mark é polido e afável de uma maneira brutal; não há sequer um momento em que ele zoa, sacaneia ou briga com Kurt por ter feito eles se perderem pela floresta. Ele demonstra uma paciência que a gente só demonstra com pessoas que estão nos visitando em casa, aquelas pessoas que fazem com que a gente esboce um sorriso para parecer simpático quando fazem algum comentário.
Ainda mais triste é o fato de que Kurt sabe que está acontecendo alguma coisa entre eles, alguma coisa que faz com que a amizade dos dois não exista mais, enquanto Mark nega que há algo de errado. Na cena das banheiras naturais, por exemplo, Kurt começa a fazer uma massagem em Mark, que se retrai rapidamente, de uma maneira nitidamente homofóbica. “Just relax, man, just relax…”, diz Kurt, enquanto Mark se mostra desconfortável. Aliás, a palavra “desconforto” é o password: toda vez que Mark se retira para atender ao telefone, procurando privacidade, o coração de Kurt se comprime. E o meu também.
Mas mesmo que não houvesse história alguma no filme, mesmo que não houvesse personagens, a fotografia teria sustentado um clima extremamente melancólico. O filme todo é nublado.
Além disso, há detalhes bastante sutis que me comoveram, como a aparição de um pássaro bonitinho no começo do filme - enquanto Mark estava com sua esposa, e a aparição de um corvo lá pelo meio do filme - enquanto Mark estava com Kurt. Gosto de pensar que o corvo tinha um nome, e que esse nome era o mesmo dado por Poe a outro corvo. E isso cai bem como uma metáfora para o relacionamento dos dois.

 

Nota: 8,0