Happy-Go-Lucky

Foto de Bennett
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Filme novo do Mike Leigh, que estava sumido desde Vera Drake, de 2004. É uma comédia bastante bizarra, que dá uma impressão interessante de ineditismo no final. Ouvi várias comparações com Amélie Poulain, mas acho que não tem nada a ver. Falta toda a pirotecnia do filme de Jeunet, e a protagonista Poppy é completamente diferente de Amélie. E principalmente, o filme não tem um roteiro quadrado e fechado como Amélie...é um filme do Mike Leigh, feito como os demais filmes dele: em boa parte, tudo é improvisado com base em alguns indicadores que são aos poucos transmitidos aos atores, e uma idéia geral do que o filme poderia ser.

Poppy é uma mulher inglesa de 30 anos, solteira, professora primária, que tem uma visão de mundo irritantemente otimista - uma Pollyanna surtada, cheia de cacoetes e tiques. A julgar pelos posts no IMDB, o público tende a encarar Poppy de diferentes maneiras. Há quem goste imediatamente, há quem apenas suporte, e há quem completamente deteste. Em boa parte do filme, achei ela extremamente irritante, mas percebi logo que não adianta lutar contra ela. O filme é narrado 100% através do ponto de vista da personagem, e você ou se deixa levar ou não consegue aproveitar Happy-Go-Lucky. Que analisando friamente, é um filme excelente, com umas sutilezas raramente vistas na tela. No final das contas, saí do cinema adorando (e sobretudo entendendo) Poppy, com uma mistura de pena, compaixão e alguma admiração. Um filme conseguir provocar isso em mim é meio difícil.

O mais curioso é que o filme em nenhum momento se posiciona a favoravelmente ou contrário à visão de mundo de Poppy, e que o clímax do filme, um monólogo feito pelo descontrolado e desequilibrado Scott, o professor de direção de Poppy, conta tanto como surto psicótico quanto uma avaliação perfeitamente ponderada sobre a personalidade dela. Há uma total recusa por parte de Leigh e elenco (que são tão autores do roteiro quanto o diretor) em subestimar a inteligência da audiência. Não há diálogos expositórios, nada é explicado ao espectador, exige-se uma boa dose de engajamento com os personagens e cenas, e há uma riqueza pouco comum no filme como um todo, principalmente levando-se em consideração a roupagem de comédia leve (que no fundo é bem traiçoeira).

http://www.youtube.com/watch?v=cMwD7Zy6Vno