Coisa rara aqui no Joio: falarmos de filmes nacionais. Eu mesmo ainda tenho uma certa resistência a vê-los no cinema - não sei se é impressão geral ou foi puro azar da minha parte, mas todo filme brasileiro que me lembro ter visto no cinema foi uma experiência desagradável, por conta das pessoas desembestarem a conversar na sala ( seja qual for, em shopping povão ou elitizado ). Vai ver porque não precisam prestar muita atenção, sei lá.
Enfim, acabo esperando alguns poucos meses pra ver no Telecine, porque todo filme nacional é patrocinado pelo canal ou realizado pela Globo Filmes e vai passar lá de qualquer jeito. Mas o boca a boca desta comédia estava tão grande ( só perdendo pra Faroeste Caboclo, talvez ) que acabei não resistindo.
Não conhecia bem o tal Paulo Gustavo, escritor, ator e peça central deste Minha Mãe É Uma Peça, exceto por ter visto o programa dele no Multishow um dia desses - dá pra dizer que é o típico comediante cheio de maneirismos repetitivos, que deve cansar rápido depois de alguns programas, mas o raciocínio veloz do cara ( a la Tata Werneck, Marcelo Adnet e Dani Calabresa ) é bem divertido. Pelo que entendi, neste filme ele encarna um dos personagens do seu programa de TV, que também foi tema de uma peça de teatro: a Dona Hermínia, baseada na mãe do próprio autor ( e ela faz uma ponta nos créditos finais ).
A história é basicona: uma mãe separada e super protetora de um casal de adolescentes ( uma gorda e um viado, pra ajudar nas piadas, claro ) ouve seus rebentos falarem mal dela e resolve morar com uma tia, pra chorar as pitangas e ver se os filhos se viram sem ela. E disso sai um filme quase episódico, alternando entre Dona Hermínia reclamando dos filhos, justificando suas atitudes, contando memórias de parentes e vizinhos, e os filhos tentando se virar.
O mais engraçado são os diálogos rápidos de Dona Herminía, típica mãe italianona sem noção, com sua voz irritantemente estridente - aliás, devem ter esquecido de contratar um engenheiro de som pro filme, porque, às vezes, nem dá pra entender direito o que ela fala ( ou pode ter sido proposital, pra reforçar o fator irritante ). Se as patadas que ela dá nos filhos são meio previsíveis, o legal é quando ela encontra vizinhos ou a atual mulher de seu ex-marido, as principais vítimas do sua língua ácida - sempre soltando um hilário "sua ridícula!" ao final. E Paulo Gustavo tem o personagem na ponta da língua, ficando acima do humor rasteiro e cheio de frases de efeito do elenco do Zorra Total, ainda sem deixar o menor vestígio de que aquela senhora é um homem travestido.
Longe, muito longe de ser um grande filme, principalmente graças ao final bucólico e repentino, fica claro que desenvolveram pouca coisa além da peça para justificar a não-tão-longa metragem - as partes com sua empregada ( Samantha Schmütz, desperdiçada ) e a reunião de condomínio, por exemplo, renderiam facinho mais algumas gargalhadas. Mas vale como uma boa comédia nacional e mesmo pra lembrar aqui e ali um pedaço das nossas mães, tias e avós.
Minha vontade é de chegar nas salas onde esse tipo de filme ta passando e jogar uma pancada de coquetel molotov (que nem eu fiz nas manisfestações).