Nunca havia lido nada do Cormac McCarthy, mas embalado pelo hype, decidi conferir The Road. As críticas são de deixar qualquer um deprimido, mas com vontade de ler o livro:
"A postatomic apocalypse novel as we've never seen one before, a black book of wondrous paragraphs that reads as though Samuel Beckett had dared himself to outdo Harlan Ellison.""The book wrenches our nightmares into a gray light where they don't vanish but become more vivid."
"Hypnotic and haunting, relentlessly dark, this is a novel to read in late-night solitude."
"Primal, violent, achingly poetic and flush with a sense of landscape."
"The Road would be pure misery if not for its stunning, savage beauty....[It] offers nothing in the way of escape or comfort. But its fearless wisdom is more indelible than reassurance could ever be."
"It may be the saddest, most haunting book he's ever written, or that you'll ever read."
"One of the saddest, most desolate, most horrifying books I've read in years...It's so good that it will devour you, in parts. It is incandescent."
"Even by McCarthy’s standards, the horrors here - an infant "headless and gutted and blackening on the spit" - are extreme, and, deprived of historical context, his brutality can seem willful. But McCarthy’s prose retains its ability to seduce."
Bem, o pior (ou melhor) é que é mais ou menos isso mesmo. As críticas acertaram na mosca.
Não sei se eu diria que é o livro do ano, porque eu li pouca coisa nova este ano, e ainda não terminei Against the Day, do Thomas Pynchon, que até agora está sensacional, e melhor a cada página. Mas The Road provavelmente é um dos melhores livros pós-apocalípticos já escritos. Geralmente quando escritores do mainstream tentam fazer um livro de ficção científica ou horror, dão um tiro no pé. McCarthy, entretanto, saiu-se muitíssimo bem. É claro que muita gente não habituada com os gêneros vai dizer que The Road não é ficção científica ou horror, mas é sim, sem dúvida alguma. Quem está acostumado com os gêneros reconhece na hora.
A história é basicamente inexistente. Há um pai e um filho, ambos sem nome, cruzando um EUA pós-apocalíptico, onde só há desgraça, morte, miséria e barbárie. É praticamente um tour por cidades abandonadas, incêndios, neve e chuva, tudo coberto por cinzas que continuam a cair ninguém sabe de onde. Pai e filho vão seguindo às vezes de longe, às vezes de perto, a estrada que dá o título do livro, indo, para falar a verdade, a nenhum lugar. Não há esperança, não há perspectiva de salvação, há apenas a morte que se aproxima, cada dia mais perto. Mesmo assim o pai tenta confortar o filho, dar uma certa esperança ao menino, que todavia sabe muito bem o destino que o espera. Ele nasceu já depois da destruição do mundo, não conhece uma vida diferente daquela, e consegue perceber muito bem quando o pai está mentindo.
Os dois vão acompanhando a estrada do começo ao fim do livro, enquanto lutam por itens de necessidade básica (água, comida, ferramentas, armas, roupas), na maior parte das vezes mortos de fome, feridos e doentes. Também têm de tomar cuidado para não encontrar outras pessoas. Parte da diminuta população que sobrou nestes últimos dias do homem na terra se organizou em milícias de canibais estupradores, e a outra parte está assustada demais, dispersa, com medo de absolutamente tudo, morrendo aos poucos, em solidão angustiante. McCarthy não dá quase nenhuma explicação do que está ocorrendo, de como o mundo veio a terminar e por quê. A destruição é total, os animais já estão quase todos mortos, as últimas latas de comida estão sendo consumidas, e é questão de tempo para não haver mais qualquer presença humana na terra. Mas não importa exatamente como chegamos a este ponto. O foco é a viagem do pai e do filho, que literalmente só têm um ao outro no momento, e estão prestes a morrer. Os dois, que podem ser qualquer pai e qualquer filho, lutam para sobreviver mesmo sabendo que tudo aquilo é fútil, e que seria melhor dar um tiro na cabeça. Enquanto não têm coragem para isso - ou enquanto falta ânimo para morrer -, os dois percorrem um caminho infernal visitando o que restou do mundo, testemunhando algumas das últimas atrocidades que anunciam a extinção do homem. A falta de detalhes quanto ao contexto torna tudo muito plausível, como se The Road fosse um retrato realista de como seria o mundo em seus dias finais. Não há nada aqui que soe falso ou forçado.
Resumindo, é um livro super pra cima, alegre e divertido, que eu recomendo de coração para todo mundo. É muito, muito bom. Curto, escrito de forma liricamente simples, brutal e bonito.
Eu esqueci como se usa a palavra idiota sem parecer um nenê que caiu de bunda no chão, mas o Sérgio Rodrigues traduziu um tequinho de um livro do McCarthy que foi lançado há uns meses, com alarde, e eu achei idiota; um personagem idiota com uma motivação idiota. Mas se virasse filme a obrigação era escalarem o Billy Drago.
Lê aí e diz se há alguma familiaridade com o que você está lendo.
Tematicamente, o excerto não tem nada a ver com The Road. Estilisticamente é isso aí, frases curtas, diálogos sem marcação. Eu recomendo a leitura. Na noite em que eu terminei de ler The Road, sonhei que eu tentei me matar, e que a arma falhou na hora. Fiquei com um gosto de pólvora na boca, e a sensação horrorosa de que eu tinha a coragem de me matar, mas não era isso o que eu queria no fundo, já que a vida é para ser vivida não importa o quê. Que eu tive o ânimo de apertar o gatilho, no sonho, veio como um baque medonho, algo como "Como eu fui capaz?".
Nunca pensei em me matar na vida, aposto que nem inconscientemente. Foi The Road que me fez sonhar assim.
Agora fiquei na dúvida. Faz três dias que eu fico enchendo e esvaziando carrinho de compras em livraria virtual, e o véio do Cormack (que nome da hora!) às vezes entra e às vezes sai.
Diz aí, esse livro é um futuro distópico mais pra Mad Max (action-gore) ou mais pra Omega Man (soft sci-fi)?
Ei, pesado esse lance do sonho. Você já se impressinou bastante com um livro, antes? Eu sempre sonho uns lances depois de jogar algum jogo muito bom.
E na época em que eu era influenciável de verdade tomava banho em posição de lótus por ter lido Shogum.
Eu nunca me impressiono com livros, não.
É mais para Mad Max, mas sem a ação.
pois é, mad max ganhou o pulitzer. boa antevista, bennett. to afim de comprar o livro. mas tenho medo de esbarrar no meu ingles. vc nao teria um trecho do livro ai? queria correr o risco. de toda forma valeu a dica.
O inglês é simples, p7, com alguma palavra menos freqüente no uso comum de vez em quando. Mas se ele ganhou o Pulitzer deve sair uma tradução em breve.
Primeira imagem do filme, com o Viggo Mortensen no papel principal.
Assisti o filme ontem.
Só não falo que é o filme do ano por causa d0o toy story 3 e por ele ter sido lançado ano passado.
O filme é pesado. Desaconselhavel pra quem tenha filhos (minha prima que assistiu comigo chorou praticamente o filme inteiro, pensando no filho dela).
A resenha do bennet conta a historia do filme, que dizem que foi brilhantemente adaptado do livro. Mas como é um filme, tenho uns adendos a fazer
:)
Primeiro a fotografia, o filme basicamente é cinza, só ficando colorido nas horas que o pai se lembra da mulher.
Que o viggo mortensen é um dos melhores atores da atualidade, todo mundo sabe, mas a sacanagem do ano foi ele não ter sido indicado ao oscar, e pior, não ter ganhado o oscar por esse filme. A construção do personagem é de tal ponto perfeita, que em nenhum momento vc questiona o ator, ele É o personagem. A atuação dele se junta ao do menino que faz o filho, que é simplesmente brilhante, o menino consegue tomar o filme pra si da metade pra frente, a ponto de em varios momentos tomarmos o partido dele nas brigas com o pai.
o filme ainda conta com tres pequenas participações, uma da charlize teron, que só aparece em flashbacks, uma do robert duval, praticamente irreconhecivel como um velho andarilho, e uma do guy pearce, no finalzinho.
É um filme sufocante, triste, te pega pelo estomago, mexe com vc de tal maneira que, assim como o bennet, eu sonhei que estava nesse mundo pós apocaliptco essa noite.
Recomendo que todos assistam esse filme o mais rápido possivel.
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And then there was silence...
Reforço a recomendação, sou pai e fiquei um tanto angustiado, meio deprê e com um nó na gargante no final. O filme é conduzido de forma brilhante pelo Hillcoat que também fez o sensacional The Proposition.
Eu não reconheci ninguém, Durval ou o Pearce. Porém com raras exceções eu reconheço participações especiais em filmes.
o durval é o velho meio cego, o pearce o pai de familia do final
eu reconheci os dois, mas como a maquiagem tah pesada fiquei na duvida, depois fui conferir no imdb
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And then there was silence...
Acabo de ver também. E também sou pai e fique mal durante todo o filme, a ponto de quase chorar no final.
Como esse filme não teve indicação para o Oscar? Roteiro adaptado era tiro certo. E o Viggo vestiu o personagem de forma assustadora. A atuação dele não é caricata em momento alguem, ele praticamente desaparece no meio das câmeras. Ao contrário de atores como o Robert de Niro, não assistimos o "Viggo fazendo um filme", ou pior, o "Aragorn num filme triste". O cara arrasou!
Recomendo a todos. Um filme super pra cima, edificante, com uma mensagem bonita. Típico filme para assistir com uns amigos comendo pipoca e jogando conversa fora. (Not)
Saudações
Ray Jackson
como eui disse, foi o melhor filme de 2009
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And then there was silence...
Acabei de assistir. Gostei mas não achei isso tudo. Me parece um filme de zumbi sem os zumbis.
Os produtores do The Road fizeram lobby pra ele entrar no Oscar, mas corretamente foi esnobado.
É um filme que não acontece, muito travado, auto-indulgente, o road movie mais chato da história. Nesse mesmo tema tem 2 melhores: Livro de Elias no quesito fun (até os canibais são mais legais) e Time of the Wolf, do cultuado Haneke. O detalhe é que o filme do Haneke que inspirou o livro do Cormac McCarthy.
O Livro de Eli tem aquela puta cena dentro do túnel, em plano sequência, que mata a pau.
Saudações
Ray Jackson
Bonita mesmo, lembra duas cenas do kill bill, uma da noiva treinando com o Pai Mei mostrando apenas a silhueta num fundo vermelho e outra durante uma luta atrás de um painel.
Eu segui a dica e baixei nesse final de semana.
Nessa hora aí do spoiler, eu achei que ia ter um acesso de choro. Até então, estava gostando, sofrendo junto, mas não tinha sido impactado. Quando o Mortensen disse aquilo, o choro veio com força.
Junior, incrível como esse filme mexe com quem é pai. Uma amiga disse que chorou o filme todo. Filmão.
Saudações
Ray Jackson
Porra QN. Assisti o Livro do Eli agora e não tem nada a ver com este. Na verdade eu até passei a gostar mais de The Road depois de ver o Livro de Eli. Que até podia ser um filme legal mas só que é ruim.
Decepcionante.
Livro de Elias é mais ético, portanto é melhor.
Ele é meio anti cristão, não? Eu achei que aquele vilão meio que representa o papa
Legal é o fato do portador da Bíblia ser...
Muçulmano
Saudações
Ray Jackson
No filme ou na vida real?
Pois é. Eu ia perguntar a mesma coisa. Pq no filme não percebi isso não. Até pq naõ faria muito sentido
Não faz sentido? Leia abaixo:
No final, quando ele dita o livro, a beira da morte, ele passa pelo ritual de passagem mussulmano. Eles o lavam, cortam seu cabelo, fazem sua barba e o vestem com uma túnica branca. Sim, ele era mussulmano e carregada uma bíblica católica.
Saudações
Ray Jackson
Humm não fiz esta ligação não. Se for o caso achei meio mal feito.
Eu achei que ele tava muito sujo e com piolho e tal (afinal, são 30 anos andando pelos EUA pós apocalipse) Mas enfim. Achei um filme meio pretensioso. Pra mim não funcionou muito bem. Umas metaforas meio mal feitas e aquela "revelação" do final pra mim só não foi mais ridícula do que as "dicas" que dão ao longo do filme. Enfim... Cada vez que lembro deste filme gosto mais de The Road.
Se o cara for mesmo mulçumano então o The Road é melhor, esqueçam o que eu disse sobre o Livro de Elias.
Todas as indicações que recebi para assistir A Estrada vieram de pais. Provavelmente porque esse é o diferencial dele: uma família desfeita em meio ao caos e a luta pela sobrevivência incerta da proli.
Nada é explicado sobre as causas do caos nem quem fim levou o menino. O que é bom porque, ao contrário de tantos outros que já vêm mastigados, faz os expectador pensar (besteiras, às vezes, mas faz).
Em resumo, parece algo do tipo: a família é o bem mais precioso. Não sou pai ainda, mas a comoção dos meus pares que já têm filhos evidencia esse aspecto.
Ao mesmo tempo, mostra como o egoísmo, a desconfiança ficam mais aparentes em situações de (extremo) risco. Até quando encontram um abrigo repleto de conforto e comida, o medo de ter aquilo tomado faz o pai decidir prosseguir com a viagem. Claro que o canibalismo também é um forte motivo para se afastar de outras pessoas, mas quando há algo mais para se comer, acredito que a carne humana é deixada de lado ... pelo menos enquanto durar o estoque.
Enfim, é um filme bem pontual. Até os flashbacks dos sonhos, que perturbam os únicos momentos de sossego do pai, só reforçam que o filme quer mostrar mais o comportamente humano naquela situação do que ser um filme greenpeace-cesco, relogioso ou mesmo anti-progressista-farmacológico, nem apontam para uma re-civilização do planeta. Só sei que bebi bastante água depois do filme porque senti, de fato, toda a agonia daqueles dois na luta pela sobrevivência (bom, pelo menos um deles sobreviveu até os créditos finais).
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Se eu copio um autor, é plágio. Se copio vários, é pesquisa.