Masters of Horror

Foto de Bennett
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Vou reproduzir dois posts que eu fiz no filme*log, sobre todos os episódios da série. Não vou colocar os links e as imagens, porque são muito numerosos.



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Mestres do horror fazendo papelão...



Estou acompanhando essa série da Showtime, Masters of Horror, e estou absolutamente chocado com o quão horrí­vel ela é. No mau sentido.



A idéia não é nada má: pegar vários diretores que já têm uma carreira consolidada na direção de filmes de horror, e dar a cada um deles um episódio de uma hora de duração, com total e irrestrita liberdade criativa. Segundo Joe Dante, diretor do pior episódio até agora, eles realmente têm sinal verde para fazerem o que bem entenderem. A série já tinha financiamento antes de chegar í  Showtime, e ia sair direto em DVD. Ainda vai, mas agora os episódios serão exibidos primeiro na TV. Como não foi algo planejado para ser exibido em cinema, não teve que passar pelo crivo da MPAA, o que significa que não houve qualquer preocupação em receber NC-17s, o que seria, como bem divulgado, equivalente a uma morte comercial lenta e dolorosa nos EUA.



Mas, a julgar pelos primeiros seis episódios, liberdade não é necessariamente uma coisa boa...ou isso, ou os "mestres" estão senis. Mestres entre aspas mesmo, porque são poucos os que merecem realmente o tí­tulo.



Na seleção de diretores, temos três diretores que de fato não estão fora de lugar numa seleção de mestres do horror: Tobe Hooper, Dario Argento e John Carpenter. Esses três de fato construí­ram uma reputação notável em torno de filmes de horror. Temos também alguns diretores que, apesar de não fazerem jus ao tí­tulo, pelo menos dirigiram um ou outro filme de horror interessante, e merecem até certo ponto estar na lista: John Landis, Joe Dante, Don Coscarelli, Stuart Gordon, Larry Cohen e Takashi Miike. Temos, ainda, um diretor que só dirigiu um filme de relevo, Lucky McKee (May)...filme razoável, mas convenhamos, mestre? E temos um diretor que está totalmente fora de lugar, John McNaughton. Um diretor interessante, mas não exatamente um diretor de filmes de horror (Henry talvez conte, com algum esforço).



Sobraram dois nomes absurdos: Mick Garris e William Malone. Ambos sem dúvida alguma diretores de horror, mas longe de serem mestres. Mick Garris fez várias adaptações medonhas de obras de Stephen King para a TV (ele é amigo pessoal de King), e Malone é o infeliz por trás do remake de House on Haunted Hill e Feardotcom. Ironicamente, o episódio de Garris, também idealizador da série, foi o melhor até agora.



Vou atribuir uma nota de 1 a 10 a cada episódio exibido até agora:



1. Incident On and Off a Mountain Road (Don Coscarelli) - Tinha tudo pra dar certo. Segunda parceria entre Coscarelli e Joe R. Landsdale, que tinha funcionado muito, muito bem em Bubba-Ho-Tep...mas esse episódio é desastroso, do começo ao fim. Slasher tosco e sem nenhuma inspiração, totalmente sem sal. Violentí­ssimo, mas e daí­? Nota 3/10.



2. Dreams in the Witch House (Stuart Gordon) - Episódio divertido, mas tão tosco que me doeu a alma. Gordon tem uma fixação com Lovecraft, e dirigiu o bacana Re-Animator...que funciona bem como comédia de horror, mas é um fracasso como adaptação. Também dirigiu Dagon, que na verdade é uma adaptação de The Shadow over Innsmouth, e esse nem divertido é. E fez From Beyond...que também não funciona nem de longe como uma adaptação de Lovecraft, apesar de ser divertidinho. De resto, tem uns filmes trash notáveis na filmografia, como Fortress, com Christopher Lambert, e Robot Jox.



Esse Dreams in the Witch House é outra adaptação primária de Lovecraft, e é razoavelmente fiel ao conto...comparado a From Beyond ou Re-Animator, por exemplo. Apesar da tosqueira, prende a atenção e é divertido. O que mais prejudica (além das péssimas atuações) é o tal do rato com cara humana, que no conto é tido como aterrorizante, mas aqui é na melhor das hipóteses hilário, e na pior, constrangedor. Nota 5/10.



3. Dance of the Dead (Tobe Hooper) - Massacre da Serra Elétrica é um filme contido, bem dosado e perturbador. Totalmente o contrário desse Dance of the Dead, hiperativo, gratuitamente violento, e chato pra caramba. Esteticamente, parece uma mistura de Assassinos por Natureza com filme do Michael Bay. Cortes rápidos, imagens sobrepostas, câmera lenta e rápida, direção de arte histérica, tudo no intuito de ser desconcertante. Acaba sendo apenas irritante. A história é do Richard Matheson, que é um bom escritor...com exceção do conto em que se baseou esse filme, se ele foi uma adaptação fiel...história de zumbi pós-apocalí­ptico em boate de delinqí¼entes, que só decola nos 10 minutos finais. A trilha sonora é do Billy Corgan. Nota 4/10.



4. Jenifer (Dario Argento) - Parece que foi baseado em uma HQ, e a adaptação fica por conta do ator principal, Steven Weber, o Brian de Wings. Argento desde Sí­ndrome de Stendhal não dirige um filme remotamente bom, e esse aqui continua a tradição. A história é a de uma mulher canibal retardada e desfigurada, que é salva de um assassino por um policial, que fica por ela obcecado. Misógino e chatí­ssimo. Nota 4/10.



5. Chocolate (Mick Garris) - A coisa está tão feia, que o melhor filme até agora foi o de um diretor medí­ocre, Mick Garris. Trata-se de uma versão frouxa de Being John Malkovich, que pelo menos consegue entreter sem cometer as tosqueiras do outro filme divertido da série, o do Stuart Gordon. É com Henry Thomas, o moleque de E.T. (que curiosamente vai estar junto com Steven Weber na adaptação de Desperation, preparada por Garris para a TV, ano que vem). Nota 6/10 (comparativamente).



6. Homecoming (Joe Dante) - JESUS CRISTO! Ninguém merece. Sátira polí­tica anti-Bush, em que soldados zumbis saem das tumbas para votarem contra a reeleição do presidente. Um propagandista e uma clone da Ann Coulter protagonizam a história, tentando fazer com que o presidente ganhe a eleição. É uma coisa tão pateticamente ruim que eu quase chorei de desespero. Nota 2/10 (estou guardando o 1 na manga, porque tenho certeza que algum episódio vai ser pior do que esse).



Parece que o denominador comum dos filmes é um total descaso por roteiros inteligentes, e um excesso injustificável de sexo e violência, totalmente gratuito, como se cinema de horror se limitasse a isso. Ecos fortes da década de 80, no pior dos sentidos.



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Mestres do Horror, parte 2



Começou mal, e terminou mal. A série Masters of Horror teve sua primeira temporada encerrada há algumas semanas, e o ní­vel dos episódios continuou o mesmo. Eu terminei de ver a série faz tempo, mas não me animei de comentar o restante dos episódios até agora. Mas como eu já havia comentado metade, coloquei na cabeça que tinha que fazer o serviço completo.



O último episódio previsto, Imprint, do Takashi Miike, não foi exibido. O motivo dado ao público foi que a Showtime recusou a exibição do filme, porque era chocante demais. Pura balela, se formos considerar que a Showtime já exibiu na í­ntegra os filmes Ichi the Killer e Audition, do próprio Miike. Imprint era de longe o episódio mais esperado de Masters of Horror, e como a série já tinha previsão de sair em DVD até antes da Showtime resolver exibir os episódios semanalmente, a decisão de não transmitir Imprint soa como um grande golpe publicitário. O objetivo é fazer hype em cima do suposto conteúdo horripilante e chocante do episódio, e vendê-lo em DVD depois. O que será feito.



Mas...Imprint vai ser exibido na Inglaterra, no mês que vem. Banido nos EUA! (clique para ver o trailer), diz o canal britânico Bravo. O tom parece meio irônico. Eles devem saber o real motivo da não exibição de Imprint nos EUA: marketing. Não que eu tenha muita fé no episódio, a julgar pelos demais da série, mas ele tem o potencial de ser pelo menos remotamente interessante, em se tratando do Miike.



A linha editorial da série é mais ou menos a seguinte: sangue, ví­sceras e peitos. Essa parece ser a idéia de horror de Mick Garris. Todos os episódios, com exceção do de William Malone, tiveram nudez feminina ostensiva (zero nudez masculina, do que já deduzimos o público-alvo da série). E todos os episódios, sem exceção, foram bastante violentos e carregados no gore. Como eu disse no meu primeiro post sobre Masters of Horror, essa série é um revival do que havia de pior no horror dos anos 80.



A segunda temporada já está sendo preparada, com alguns dos diretores da primeira retornando. Um nome já confirmado, relativamente animador, é o de Brad Anderson. Não tenho esperanças de que haja um salto qualitativo, mas vou assistir aos episódios da mesma maneira.



Eu sei, eu não aprendo...



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7. Deer Woman (John Landis) - Esse é o melhor episódio da série, disparado. Considerando-se que é uma comédia bobinha construí­da em cima de uma lenda indí­gena norte-americana sobre uma mulher-alce assassina, isso diz muito a respeito da qualidade da série como um todo. Mas Landis não faz feio, e dá uma surra em todos os seus colegas. O episódio é divertidí­ssimo, muito engraçado, e tem a participação da linda modelo brasileira Cinthia Moura. Não é nada espetacular, mas é basicamente o único episódio de Masters of Horror que eu recomendaria sem qualquer reserva. Lembra um pouco um daqueles episódios cômicos de Arquivo-X. Muita gente disse que lembra Kolchak, uma série que eu nunca vi mas foi uma das inspirações para Arquivo-X. Talvez seja isso mesmo. Nota 8/10.



8. Cigarette Burns (John Carpenter) - Escrito pelo fanboy do AICN Drew McWeeny (o nome não é fictí­cio...ele está registrado assim mesmo), que posta no site como Moriarty, Cigarette Burns é melhor que os últimos filmes do John Carpenter. Mas veja bem, as últimas obras de Carpenter foram Vampires e Ghosts of Mars. Difí­cil algo ser pior do que esses filmes. Cigarette Burns, entretanto, é um dos episódios mais assistí­veis de Masters of Horror. O duro é que a fanboyzice de McWeeny, péssimo roteirista, atrapalha o que poderia ter sido uma história um pouco mais interessante. O roteiro é tão auto-referencial, "pós-moderno" (pronuncia-se com sotaque carioca, "póish-mudernu") e cheio de clichês que chega a ser patético. McWeeny consegue a façanha plagiar Ringu, 8mm, The Ninth Gate e In the Mouth of Madness (do próprio Carpenter), de uma vez só. Fora os diálogos constrangedores e a total falta de lógica de algumas cenas. Mesmo assim, é assistí­vel. Nota 6/10.



9. Fair-Haired Child (William Malone) - Até que começa bem, e tem seus momentos. William Malone é um dos piores diretores de Masters of Horror (fica estranho chamar Malone de mestre), mas se deu bem melhor que quase todos os diretores mais consolidados da lista. O que torna os episódios de Hooper e Argento ainda mais lastimáveis do que já são. Mas enfim...é um episódio com clima. A primeira metade funciona muito bem, apesar da medonhamente péssima atuação da protagonista. Da metade para a frente, as coisas começam a desandar, com a direção de arte plagiando descaradamente o design do Rubber Johnny (curta do Chris Cunningham, que vale muito a pena assistir). Malone, todavia, merece aplausos por dirigir o melhor filme de sua carreira, e por controlar um pouco o sexo e violência, totalmente gratuitos nos demais episódios.



10. Sick Girl (Lucky McKee) - Lucky McKee é uma escolha quase tão bizarra quanto Malone para figurar entre "mestres" do horror, sendo que o único filme relevante que ele fez foi May. Mas ao contrário dos filmes de Malone, pode-se dizer de May que é um filminho bacana. Depois de uma experiência aparentemente traumática na direção de um filme até o presente momento engavetado, The Woods, Sick Girl é o primeiro filme de McKee que o público pode conferir após May. Infelizmente, o termo técnico para se descrever Sick Girl é "paia". Ou "goiaba", se preferirem. Angela Bettis, protagonista de May, vive aqui uma entomóloga lésbica que se apaixona por uma menina tí­mida, vivida pela atriz de horror pornô softcore Misty Mundae. Por motivos totalmente estapafúrdios, Mundae acaba sendo mordida por um inseto brasileiro e sofre umas mutações bizarras, virando uma mulher-inseto assassina. Sendo (bem) simpático, posso dizer que achei o episódio bonitinho. Nota 6/10.



11. Pick Me Up (Larry Cohen) - Larry Cohen, um dos diretores veteranos da lista, dirigiu um filminho muito vagabundo a respeito de dois serial killers rivais. No meio da briga por território dos assassinos, há a heroí­na vivida pela sempre péssima Fairuza Balk. A história não ajuda, os personagens não ajudam, o filme é uma grande porcaria...mas se acha super engraçadinho. O final, totalmente previsí­vel, também dá uma piscadinha para o espectador, como se dissesse "Uau, como eu sou um filme esperto!". Pick Me Up é tão divertido e inteligente quanto seu tio chato, bêbado, contando piadas do tipo "É pavê ou pracomê?" no reveillon. Um dos piores episódios da série. Nota 4/10.



12. Haeckel's Tale (John McNaughton) - E McNaughton, que não é exatamente um diretor de filmes de horror, fecha a série com chave de sucata, dirigindo esse filme de época baseado em uma história do Clive Barker. Haeckel's Tale tem pedigree, mas é totalmente Masters of Horror. Ou seja, é totalmente uma merda. Basicamente, o filme é uma mistura de Frankenstein com filme de zumbi. Termina com um grande gang bang no cemitério, entre uma moça e diversos zumbis. Coisa fina. McNaughton parece ter se divertido bastante, mas o mesmo não pode ser dito a respeito deste espectador. Nota 3/10.



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A ABC, embalada no sucesso de Masters of Horror (sim, por incrí­vel que pareça houve muita gente que gostou da série), vai fazer um Masters of Science Fiction. Tomara que dê certo. Pelo menos a opção por adaptar histórias de escritores consagrados como Heinlein, Bradbury e Ellison já é um bom começo.

Foto de Charllie

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O último episódio previsto, Imprint, do Takashi Miike, não foi exibido. O motivo dado ao público foi que a Showtime recusou a exibição do filme, porque era chocante demais. Pura balela, se formos considerar que a Showtime já exibiu na í­ntegra os filmes Ichi the Killer e Audition, do próprio Miike. Imprint era de longe o episódio mais esperado de Masters of Horror, e como a série já tinha previsão de sair em DVD até antes da Showtime resolver exibir os episódios semanalmente, a decisão de não transmitir Imprint soa como um grande golpe publicitário. O objetivo é fazer hype em cima do suposto conteúdo horripilante e chocante do episódio, e vendê-lo em DVD depois. O que será feito.

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MASTERS OF HORROR: IMPRINT

http://moriartylabs.typepad.com/moriartys_dvd_shelf/2006/03/masters_of_horr.html



(...) I understand why it didn't air on Showtime now. There's one torture sequence that is so graphic, so stark, that it just makes sense for the network to have passed on the whole thing instead of trying to tone it down (...)

Foto de Terenzi

Eu até hoje não tive coragem de assistir Masters of Horror de tanta propaganda ruim hehe

Foto de Bennett

[quote=Charlie]MASTERS OF HORROR: IMPRINT

http://moriartylabs.typepad.com/moriartys_dvd_shelf/2006/03/masters_of_horr.html



(...) I understand why it didn't air on Showtime now. There's one torture sequence that is so graphic, so stark, that it just makes sense for the network to have passed on the whole thing instead of trying to tone it down (...)[/quote]



O Moriarty vestiu mesmo a camisa da série (ele vai colaborar novamente com o Carpenter na segunda temporada). Mas interessante ele falar isso, já que Ichi tem trocentas cenas de tortura bem pesadas, e os 15 minutos finais de Audition são uma cena de tortura que envolve pés sendo cortados com cordas de piano, e agulhas sendo enfiadas em olhos. E ambos esses filmes foram exibidos pelo Showtime.

Foto de quase nada

Vai sair em dvd esse mês e quero ver todos, principalmente o do Miike.

Foto de Bennett

Eu estava fazendo uma escalação imaginária para o Masters of Science Fiction outro dia, se o Mick Garris estivesse no comando. Ele ia chamar gente como...



Len Wiseman

Paul W. S. Anderson

Kurt Wimmer

David Twohy

Uwe Boll



...e colocaria uns três nomes respeitáveis no meio.