Pobre cinema brasileiro

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É demolidora e espantosamente lúcida (sem um pingo de preconceito, afinal) a crítica que Bernardo Krivochein faz ao cinema brasileiro, a pretexto de resenhar o novo filme de Claudio Assis, Baixio das Bestas, que eu não vi e não gostei.

O texto reconhece alguns méritos no filme (quase todos, segundo eu li em outra fonte, devidos à direção de fotografia de Walter Carvalho), mas o usa como mote para sentar a pua:

[quote=Bernardo Krivochein]Você não tem a impressão de que, quando assiste ao novo filme brasileiro, está assistindo sempre ao mesmo filme? E um filme que não era lá muito bom, a princípio de conversa? A mim, assim me parece e vou cometer a ousadia de tentar me fazer entender. O cinema de Cláudio Assis não é parecido nem compartilha incômodos estético-narrativos com o de seu amigo Beto Brant; seu cinema é idêntico, i-dên-ti-co, ao de Walter Salles, que imagino considerar seu nêmesis espiritual. Em bulletpoints, exponho minha perspectiva (aliás, ela pode ser questionada e destruída; não é uma arquitetura firme):

- No Brasil, nordeste é sinônimo de sertão e sertão sinônimo de pobre (vamos lá, gente: sem hipocrisia agora);

- A classe média-alta burguesa metropolitana acha pobre tudo feio e, bem... pobre;

- Walter Salles, que tem mais grana do que toda a classe média-alta burguesa somada, por culpa de menino rico num país subdesenvolvido ou por exercício da virtude segundo Focílides, quer absolver o pobre da visão geral que lhe é atribuída e impõe uma visão romântica desse pobre: enfia filtro de tudo o que é jeito – literal e metaforicamente. O sertão vira uma salada de frutas e cenário de histórias edificantes;

- Classe média-alta burguesa, que admira tudo o que mais rico gosta, vê que Salles gosta de pobre. Agora, classe média-alta burguesa gosta de pobre. Sertão agora não é mais pobre, é cult;

- Um cambada de cineastas comparsas metropolitanos fazem a limpa nos editais de patrocínio com seus filmes de Pobresertãocult. Detalhe: nenhum deles é nordestino. Filmando um sertão poético e exótico, os filmes poderiam muito bem ter sido feitos em Marte e ninguém notaria a diferença;

- Os cineastas nordestinos, como era de se esperar, vêem esses filmes e se indagam: mas que caralho de visão é essa que eles têm da gente? Esses filhos da puta não fazem a menor idéia dos problemas sócio-econômico-culturais que assolam a região, tais quais et cetera (não sou do nordeste, não cometeria a ousadia de tentar diagnosticar os problemas da região);

- Os cineastas nordestinos, como é bem do direito deles, fazem os filmes na raça para acabar com a alienação geral de quem acha o sertão romântico e revelar a verdadeira faceta do nordeste, uma faceta desglamourizada, com narrativas que remetem ao realismo/naturalismo, determinismo social, o homem é fruto do meio em que vive, podridão, crueldade, e por aí vai;

- Classe média-alta burguesa continua sendo a única que tem interesse o bastante para pagar para freqüentar filmes brasileiros;

- Classe média-alta burguesa, que achava pobre cult, volta a achar pobre feio e, bem... pobre.

Se a semelhança entre os dois cinemas não ficou clara é porque ambos consideram o espectador um indiferente desatento e saem em busca de revelar-lhe as verdades do Nordeste: um, suas beleza através da exacerbação da simplicidade, o outro seu submundo degenerante. A grande questão aqui é que talvez o cinema de Assis, nessa cruzada pelo despertar do espectador da alienação poética-culpa-de-rico, esteja aqui apenas para confirmar os preconceitos que a classe média-alta burguesa metropolitana já tinha logo de início. (...)

Só falo em nome de alguns quando digo que já ficou chata essa história de cinema brasileiro e tá na hora de renovar. Engajar o espectador numa luta por mudanças sociais certamente não é algo que o filme busque (mas me engajou numa busca por mudanças no cinema nacional), a denúncia também é enfraquecida porque não é algo que a gente realmente não saiba há muito tempo (só fazemos ouvidos surdos, mas não completamente) e eu poderia fazer como os ricaços e posar de chocado após a sessão apenas para ir dançar no puteiro no rega-bofe pós-première (um evento só revelou a filosofia confusa e conflitante por trás do filme), mas não consigo.

Quem me dera que um diretor iniciante surgisse e fizesse um filme completamente despirocado na montagem, no conteúdo, na narrativa e que fosse um completo fracasso em todos os sentidos (estético, lucrativo...), mas que pelo menos trouxesse algo de diferente, algo de realmente ousado, porque mundo cão, amigo, o público já vive nele e nesse seu revelar revolucionário, vocês só estão ensinando o padre a rezar missa. Fica a impressão que o problema do Brasil não é a prostituição, a violência, a corrosão do sistema de classes ainda provinciano, mas o sexo e Assis a nossa Catherine Breillat tupiniquim (aff!).

Então o nordeste tem suas belezas, suas paisagens, sua simplicidade, seu pôr-do-sol híperalaranjado, OK; e também tem sua miséria, sua injustiça, a violência contra mulheres e crianças, OK também. Então o Brasil é uma terra de contrastes, perfeito, a gente já entendeu. Agora quero ver saber contar outra.[/quote]

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Pô, mas nem precisava escrever tanto. É um filme Cláudio Assis.

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O texto é maior, eu peguei só uma parte, hehehe. O problema é que Cláudio Assis é um embuste muito bem elaborado, que tem enganado alguns incautos por aí.

Eu achei ótimo o cara demonstrar por A + B por que o cinema brasileiro está nessa merda tão grande. Esse filme bisonho é só o sintoma mais evidente.

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Madame Satã é legal. Gostei também de "Cinema, aspirinas e urubus". Mas o que eu mais me agradou foi "O ano em que meus pais saíram de férias".

Mesmo que Madame Satã e Aspirinas se passem entre gente pobre, eles não têm esse caráter de "denúncia social" que eu acho bem falso na maioria dos filmes brasileiros. No Madame existe a força do personagem principal, que é extraordinária, e no Aspirinas predomina o lirismo que nem glamuriza nem mostra como abjeta a vida no sertão esquecido por Deus.

* * * * * * * *

O filme anterior do Assis, Amarelo Manga, nem seria tão catastrófico se não fossem justamente aquelas cenas que só podem ter sido feitas pra chocar. A história até que tem a sua força, uma certa brutalidade natural e pouco afetada, mais ou menos como Cidade Baixa (que eu achei mediano). O papel da minha conterrânea Dira Paes como a esposa crente do Chico Dias é muito bom. O que mata é o maluco lambendo defunto, o boi pegando paulada no matadouro, a velha se masturbando com sei-lá-o-quê...

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Amarelo Manga teria sido ruim mesmo se não quisesse chocar. Cinema naturalista TOSCO se achando algo original, intelectual, cru e malvadão.

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Pobres são os brasileiros que tem que ver essa bosta!

Foto de quase nada

[quote=Bennett]Amarelo Manga teria sido ruim mesmo se não quisesse chocar. Cinema naturalista TOSCO se achando algo original, intelectual, cru e malvadão. [/quote]

Mas vai mentir que tu não deu um pause na xereca da loira falsa! 

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Infelizmente eu vi essa merda no cinema, onde não existe botão de pause. Mas xereca tingida é brochante.

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Concordo com tudo, mas não me lembro qual crítico americano disse numa entrevista numa edição da Veja que americano quer ver o que não há nos EUA. Se for pra ver histórias românticas em grandes cidades eles já tem uma caralhada todos os anos, e pq raios iriam querer ver uma igualzinha falada em outra língua? Ficção, drama, suspenses eles não querem.

Esses filmes nordestinos são para americanos verem. Só isso, é um mercado.

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Rodolfo Castrezana

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Rodolfo Castrezana
Nerd Rabugento

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Tem um mercado grande para esse tipo de filme aqui também, o filme Pobre Chique. É "cool", é a "brasilidade" na tela.

Foto de Castrezana

Na verdade acho que muito brasileiro vai ao cinema ver filme brasileiro por desencargo de consciência.
E a outra parte (a maioria) vai pq os atores da novela das oito participam desses filmes. "Vc já viu o novo filme com a Glória Pires e o Tony Ramos?"

Argh!!!

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Rodolfo Castrezana

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Rodolfo Castrezana
Nerd Rabugento