Livro muito bacana do André Barcinski, crítico certeiro e reclamão notório, que fala sobre o período onde se estabeleceu e construiu a música pop aqui no Brasil: final dos anos 70 até o começo dos 80.
Legal que o período abrangido é bem peculiar e interessante, principalmente por ser algo que raramente se encontra em outras obras, indo do estouro dos Secos & Molhados, em 1974, até a ascenção e queda vertiginosas do Ritchie, cantor de "Menina Veneno", em 1983. E ainda fala de Raul Seixas, Guilherme Arantes, Gretchen, Balão Mágico, Frenéticas, Rita Lee e muito mais gente, entre medalhões da MPB e one-hit-wonders. Em paralelo, mostra o nascimento do que viria a ser a indústria fonográfica brasileira, que de um bom tempo pra cá ( seguindo a tendência internacional, claro ) está mais preocupada em vender produtos do que música.
Pra quem cresceu nos anos 80, vai ser uma delícia redescobrir e relembrar gente que já foi ícone, caiu no ostracismo e chegou a ser redescoberta pela molecada de hoje, como Rita Lee ( descobri no livro que ela é a mulher que mais vendeu discos no país, só perdendo pra Xuxa ) ou Sidney Magal. O livro cobre perfeitamente ( e deixa até com gostinho de quero mais ) como a austera e elitista MPB de Chico, Caetano e Gil, foi dando espaço para artistas menos encanados como Blitz, Ultraje A Rigor e Kid Abelha. Poucos param para analisar como um cara como o Guilherme Arantes, que tem um capítulo quase exclusivo no livro, preenche o abismo entre estas duas épocas, com músicas absurdamente bem escritas e que são cantadas por multidões.
Chega a dar tristeza terminar o livro com tanta referência boa na cabeça e comprarar com a atual situação da música pop nacional.
Legal que o Barcinski demonstra ser fã do que está escrevendo, mas não deixa o panorama na mão dos artistas e dá palavra também a produtores e gente de indústria fonográfica, além de situar o leitor rapidamente em questões políticas e sociais da época ( vide a parte sobre a ascenção no consumo de cocaína, que obviamente atingiu os artistas nacionais ). E uma coisa é inegável: o cara escreve bem pra caralho, desde a época do clássico "Barulho", talvez o primeiro grande livro sobre o grunge e o estouro da música alternativa nos anos 90, até a ótima biografia do Zé do Caixão.
Altamente recomendável.
e qual seria a "atual situação da música pop nacional"? Vc sabe? Ele sabe?
Virou sertanejo, pagode e funk, dependendo do que toca na balada, na novela ou no Feice. Às vezes, tudo isso misturado.
"Cadê o samba raiz? Morreu. Cadê o pagode de morro? Mataram. Cadê a guitarra elétrica de Jonny Greenwood, Dodo e Osmar? Kapuft. A boa música acabou, agora é wigle, wigle, wigle e ostentação. A Tropicália do gheto é o Tribalismo dos vegan."
Arnaldo Jabor.
É verdade. Ou não.
Isso me lembrou a melhor citação do livro inteiro: Gilberto Gil, até então um dos cabeças da MPB, resolve virar pop em 1979 e lança o disco Realce ( "quanto mais purpurina, melhor..."). Aqui, ele explica a letra da música-título:
"A letra parte de um escopo geral que é falar do que, à época, eu chamava de 'salário mínimo de cintilância a que têm direito todos os anônimos' - nos terminais de metrô, nas arquibancadas dos estádios, nas discotecas. Esse lado saturday night fever está propositalmente explicitado nos três pseudo-refrões, que funcionam para reiterar a macdonaldização da vida cotidiana nas grandes cidades, mas também para dar-lhe uma qualificação de profundidade que necessariamente também existe nessas coisas tão associadas à superficialidade. Por outro lado, cada uma das estrofes que antecedem os 'refrões' remontam ao sentido de potência contido no wu wei".
Chore abóboras selvagens de sangue, Marcelo Camelo!
Virou? O que virou? Que "cenário" é esse q vc quer criticar? Representa o que/quem?
Enfim, ja entendeu onde quero chegar. É muita ingenuidade achar q é possível julgar uma era baseado no que os outras pessoas ouvem ou dizem.
Deixa de bobagem. A música (essa entidade misteriosa) nunca esteve tão plurarizada e com possibilidades de produção e ofertas quase infinitas. Ficar esperando por gênios proclamados é assumir que não entendeu NADA de tudo o q aconteceu nos últimos 20 anos.
Se vc só ouve falar de coisas que julga ruim, a culpa é apenas sua.
Outro dia tava lendo um tópico antigo que tem uma longa discussão sobre essas interpretações da ''cena'' musical de uma era, década ou quaisquer período queira. E pelo jeito a linha de pensamento do agraciotti não mudou muita coisa...
http://www.joio.com.br/node/2891
Eu estou falando de música popular, aquela que toca no rádio, aparece na televisão e é vendida pelas gravadoras. Disso que fala o livro.