MTV, VMA e o show de horrores do mundo da música de 2011

Todo mundo sabe que a MTV não é mais referência de música. Nos Estados Unidos, então, o canal passa reality shows em quase 70% da sua programação -  os clipes agora passam nos canais-satélite da emissora, como VH1, MTV2,  e afins. 

Mas ainda assim a MTV insiste em realizar o seu Video Music Awards, para premiar os melhores clipes do ano. Como há anos o VMA está dominado por rappers e pop descartável, nem lembro a última vez que assisti - vi uma ou outra apresentação comentada ( como a Lady Gaga menstruando no palco em 2009 ) na internet. Mas esse ano, por falta do que fazer e da programação dominical de qualidade que temos na televisão, acabei assistindo - e confesso que foi a coisa mais hilária e tenebrosa que vejo em muito tempo.

Primeiro que não havia um videoclipe realmente foda a ser premiado: os indicados ao melhor clipe do ano foram Adele, com "Rolling In The Deep", que mostra ela cantando numa casa abandonada cheia de obras de vidro que vão quebrando ( com ecos de "Freedom 90" do George Michael ); "Make Some Noise" dos Beastie Boys, com atores semi famosos interpretando clipes antigos dos próprio BB, originalidade zero; Bruno Mars com "Grenade", com o cantor arrastando um piano pela cidade - e só; Tyler The Creator com "Yonkers", um clipe em p/b muito mal fotografado pra disfarçar os fracos efeitos do rapper comendo insetos; e Katy Perry com "Firework", o mais idiota de todos, com doentes, mulheres, gente feia e gays soltando fogos de artifício do peito, piegas que dói. Se era pra escolher o pior, deu certo: Katy Perry levou ( e ela tem clipes bem melhores que esse ).

Incrível ainda ver gente que não canta direito nem com Pro-Tools, como Justin Bieber, Britney Spears e a própria Katy Perry, sendo premiada - ficou parecendo aquele prêmio da Nickelodeon. Ainda mais porque os apresentadores dos prêmios eram gente do calibre de Jonas Brothers, Katie Holmes, Demi Lovato, Hanah Montana e o lobisomem do Crepúsculo.

Britneyde levou um prêmio de "Vanguarda", pelo seu "conjunto da obra"! Bwahahahahahaha.... e não apenas ela estava visivelmente fora de órbita, como foi meio humilhada pela própria MTV, que fez uma homagem botando uma dúzia de crianças pra dançar um medley de menos de 1 minuto das suas músicas. Ao final, a cara dela era de quem tinha acabado de fazer um exame ginecológico em rede mundial. E nem conseguiu agradecer o prêmio, com a Lady Gaga tentando agarrar ela.

Lady Gaga, aliás, estava numas de alter ego, e ficou a noite toda travestida de homem, toda malandra do Didi, com um cigarro na boca e soltando palavrões... quando foi se apresentar, subiu em cima de um piano e:

Pelo menos a Gaga, junto com Beyónce, Adele e Bruno Mars, realmente mostrou que tem talento pra cantar ao vivo. O restante da apresentações, principalmente de rappers, foi feita na base do playback descarado - o tal Chris Brown, aquele que deu uns tapas na Rihanna, ainda ficou fazendo malabarismos pendurado em uma corda e fingindo tão mal estar cantando que parecia um show de talentos circense.

O único ponto interessante da noite foi durante a infalível homenagem a Amy Winehouse, que mostrou um trecho da última gravação oficial dela, cantando com o Tony Bennet em estúdio. Foram poucos minutos que ficaram total e completamente fora de sintonia com o restante do programa - e a audiência local parecia mais em silêncio porque não consegue processar gente talentosa do que em homenagem a falecida.

Pra finalizar de forma impecável, o rapper Lil Wayne ( tipo QUEM? ) fechou a noite com uma apresentação de uns dois minutos, soltando palavrões ( todos devidamente bipados ) sob a base de "Iron Man" do Black Sabbath, com as calças arriadas e se matando pra quebrar uma guitarra no final. Acho que a MTV ficou tão perplexa com aquilo tudo que encerrou o programa do nada, só colocando o logo da emissora na tela. Até os VJs brasileiros que estavam comentando o VMA, Penélope e Thunderbird, ficaram com ncara de "COMO ASSIM?".

Enfim, deu medo. Não parecia aquele VMA onde já vimos apresentações memoráveis de Madonna, Guns N' Roses, Aerosmith, Prince, U2, REM, Nirvana, Nine Inch Nails, Marilyn Manson, Beck, Lauryn Hill, Rage Agains The Machine, Faith No More, White Stripes, Hives e até das próprias Britney, Gaga e Beyoncé.

E pelo visto, afinação eletrônica é o novo talento. Se antes a gente convivia numa boa com boy-bands e artistas infanto-juvenis, todas com prazo de validade estampado na testa, hoje parece que eles realmente dominaram o mundo. Mas também, fazer o quê se música virou objeto de consumo equivalente a um sorvete?

E eu prefiro o sorvete.