Safe/ Mal do Século (Todd Haynes, 1995)

Foto de Stryder
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Obaaa, um filme espetacular logo depois do Natal, uhuu, uhuuu.

 

O filme é sobre uma "alergia no século XX", causada pela baixa tolerância que algumas pessoas têm aos produtos químicos usados no cotidiano. Carol (Julianne Moore) começa a se sentir exausta, pusilânime e doentinha, e começa a ter uns ataques alérgicos quando em contato com fumaça, sofás ou quaisquer outras coisas que tenham produtos industrializados e tóxicos. Ela começa a fazer consultas, mas os médicos sempre fazem o mesmo diagnóstico: fisicamente ela está com saúde impecável, o que sugere um problema psicológico. Portanto, o consenso dos médicos é que as suas reações alérgicas sejam psicossomáticas. Mas ela não aceita esse diagnóstico e continua investigando, até que descobre que muitas pessoas estão tendo reações alérgicas nas cidades grandes, devido ao ar poluído, aos agrotóxicos, aos produtos de beleza etc. e que algumas dessas pessoas se juntaram para um tratamento em uma espécie de fazenda, longe de todos os químicos. Carol convence seu marido de que ela realmente tem um problema alérgico e decide ir em busca de tratamento.

 

Mas isso é só a trama. O tema do filme está tão escondido, mas tão escondido, que eu é que estou tendo alergias aqui. É como se você tentasse indentificar o que está atrás de um lençol erguido só pelas formas que surgissem no lençol. A doença é uma metáfora, certo. Mas para o quê? Minha interpretação mais acertada eu acho que é a de que Carol é sexualmente reprimida. E um amigo mais esperto me fez ir além disso e perceber que parece que Carol é sexualmente reprimida porque é lésbica. Sobre isso, há uma cena em que ela tem um ataque alérgico aparentemente sem motivo algum (i.e. sem produtos químicos), enquanto ela dá colo a uma menininha e observa algumas mulheres em um chá-de-berço. Esse ataque começa parecendo um orgasmo. Há também uma cena em que Carol transa com o marido e mantém-se fria, inerte, sem interesse algum. Ela se mostra mais alienada do que a Amélie Poulain transando. E há alguns outros pontos, como o fato de que o único amigo que Carol fez no local de recuperação ser obviamente gay.

De qualquer forma, lésbica ou não, a Carol é sexualmente reprimida e insatisfeita. E - ao contrário das interpretações que eu vi por aí - ela não é vazia por dentro; ela é cheia demais. Tão cheia que não pode se mostrar como ela realmente é por convencionalismo, ou por medo etc. A Carol só está a salvo longe da civilização, onde ela pode ser ela mesma. De preferência num iglu. Então, longe de ser vazia por dentro, ela é vazia por fora. O tom de voz, os gestos, a aparência frágil e totalmente hesitante (eficientes graças a uma atuação espetacular de Julianne Moore) é o resultado do que não pode ser mostrado, do que só Carol conhece.

Em Persona, do Bergman, Elizabet decide se calar porque tudo que ela falava era parte de uma máscara, de um personagem que era tudo menos a "verdadeira" Elizabet. A mudez voluntária era o efeito colateral de não poder se expor, porque assim Elizabet acreditava que estava sendo ela mesma. Em Safe, o efeito colateral da Carol por não poder se expor é a alergia a químicos: quando todos os doentes da alergia do século 20 estão se apresentando, eles geralmente moram perto de indústrias químicas ou outros tipos de lugares poluídos, enquanto a Carol mora em um lugar sem poluição. É como se ela fizesse uma auto-sugestão inconsciente para se preservar da verdade. Ter alergia a químicos é mais suave do que ter alergia a homens.

 

Nota: 10

Esse filme é praticamente perfeito. Eu não consegui pensar em cena alguma que pudesse ser retirada por excesso, ou cena que estivesse faltando etc. Algumas cenas são mais do que bem dirigidas, como a da primeira reação de alergia de Carol enquanto ela dirigia atrás de um caminhão. Ela começa a tossir e a ir para um estacionamento subterrâneo. A sensação de angústia é incrível.

 

 

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E esse aí é o Lester. Ele se isolou totalmente para se proteger dos químicos.

 

 

 

 

 

 

Foto de Bennett

Esse filme é muito bom mesmo.

Foto de Pringles

Nunca tinha ouvido falar, obrigado pela dica. Pra quem se interessou achei o rip no emule e a legenda tem no legendas.tv