Cinco Frações de Uma Mesma História

Mais um daqueles filmes onde várias situações e personagens se cruzam em algum momento, em versão nacional. O que mais chama a atenção aqui é que, apesar de suas qualidades, em muitas partes o filme parece trabalho de faculdade de cinema, por usar diversas técnicas recorrentes ( ou batidas ) da sétima arte. Uma história é em preto e branco, outra traz closes demais, outra tem cortes rápidos, uma tem fotografia estática, outra tem panorâmicas e por aí vai. Toda e qualquer técnica é apresentada em algum momento da projeção, dava até pra usar esse filme todo em cursinho introdutório de cinema.

Sobre as histórias, a coisa é quase tão irregular quanto sua estrutra visual: a primeira mostra um fotógrafo obcecado por pés femininos e que descobre, no final, que uma loja de sapatos é o paraíso. Duh! Mas vale pela atuação do Leonardo Medeiros ( aquele tiozinho barbudo do Não Por Acaso ) que convence e chega a dar vergonha alheia na pele do fotógrafo. A segunda mostra um outro maníaco, mas não entendi até agora exatamente qual é a fixação do cara... mas enfim, ele vê sempre o mesmo rosto ( feio ) em diversas mulheres e o filme alterna o que o personagem imagina e o que acontece à sua volta - mas nunca deixa claro quais das situações é a verdadeira.

Na terceira parte a coisa começa a ficar interessante, mostrando um juíz que tenta convencer seu subalterno a confessar um crime em seu nome. Apesar de boba ( e de uma atuação over do falecido Jece Valadão, que já era over naturalmente ), a história tem um final bacaninha e bizarro, introduzindo perfeitamente a história seguinte: um açougueiro suspeita que sua mulher está com outro cara e resolve dar um jeito na situação - novamente, de um jeito previsivelmente bizarro.

A última história é a mais light e bem mais engraçada, apresentando um encontro às escuras entre uma secretária e um vendedor que termina neste último sendo sequestrado para casar em praça pública, com direito a exibição na tevê e comoção do público ( aliás, nesta hora vem a novela televisiva da menina jumper na cabeça ). Aliás, os dois personagens principais se conhecem por um programa de rádio que é um dos principais elos de ligação entre todas as cinco histórias, além do fato de tudo acontecer em um dia quente em Belo Horizonte ( opa, boa parte dos posters do Joio vão se sentir em casa ) e de alguns personagens aparecerem em diversas histórias. Legal que nada é tão dramático ou pretensioso como o Signo da Cidade, o recente filme da Bruna Lombardi que também usa o esquema de personagens se cruzando

Tirando o fato de que a parte técnica é irregular - notem bem, não é ruim, mas a inconstância das maneiras de filmar de cada história deixa o material entre algo amador e forçado - e da segunda história ser meio babaca, é uma sequência interessante de situações e, no mínimo, um excelente laboratório pra novos talentos do cinema nacional. Vale uma conferida, sem compromisso e expectativa, tipo aquela coisa de ver apresentação de TCC de amigos, sabe?