Portishead e Justice se destacam no Coachella

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Portishead e Justice se destacam no Coachella

Encerrado no domingo, na Califórnia, festival apresentou queda de público

Com platéia sedenta por novidades, Coachella teve ainda os veteranos Prince, Roger Waters e discurso político do ator Sean Penn

Com mais de 120 atrações distribuídas em cinco palcos, o festival Coachella dividiu-se em vários. Houve o Coachella em que Prince tomou para si o trono da black music; o Coachella da impactante melancolia do Portishead; um Coachella nostálgico com Roger Waters; o Coachella em que prevaleceram bandas novas, como Black Kids e MGMT. E houve um Coachella feito com uma potência ensurdecedora e intensa, proporcionada pela dupla de electro-rock Justice.

Um dos principais eventos de música pop do mundo, o Coachella aconteceu entre sexta e domingo, num campo de pólo em Indio, cidade localizada em um deserto a duas horas de carro de Los Angeles (Califórnia).

Neste ano, houve queda de público. Segundo os organizadores, o festival recebeu 160 mil pessoas -50 mil pessoas tanto na sexta quanto no domingo e 60 mil no sábado (em 2007, o público foi de 180 mil).

Em uma área exuberante, cercada por coqueiros e com cadeias de montanhas no horizonte (e temperatura que bate, nesta época, nos 38 graus), o Coachella é feito com dois palcos ao ar livre e três tendas.

Nova música

Conhecido no Brasil por canções assobiáveis, dedilhadas ao violão, Jack Johnson encerrou a programação do palco principal na sexta. Muita gente foi embora no meio do show -ou estacionou na tenda onde Fatboy Slim comandava uma multidão de clubbers.

O público do Coachella parecia sedento pela nova música, seja ela em formato roqueiro ou eletrônico.

Bom cenário para Les Savy Fav (art-rock pilotado por um vocalista insano), Black Kids (cujo vocalista parece um Robert "The Cure" Smith afro) e Santogold (excelente vocalista que faz performance sobre bases de electro, ragga, dub e rap).

Antes de Johnson, o inglês Verve, resgatado do limbo do britpop, deu cuidado especial às suas velhas canções.

O sábado foi o dia mais concorrido. No meio da tarde, a dupla americana MGMT lotava uma das tendas.

Com ajuda de guitarras precisas e teclado criativo, a banda desenha momentos épicos (como em "Time to Pretend" e no hino adolescente "Kids"). Já o grupo Hot Chip, ao vivo, faz um pop dançante ainda mais dinâmico do que em disco.

O produtor inglês Mark Ronson levou à Califórnia convidados como Tim Burgess (Charlatans), Kelly Osbourne e Jamie Reynolds (Klaxons).

O encerramento da noite ficou a cargo de Prince, que, com uma enorme e afiada banda, revisitou clássicos, como "1999" e "Controversy", e fez esquisitos covers de "Creep" (Radiohead) e "Come Together" (Beatles). À parte um certo exagero exibicionista, Prince foi exuberante na busca por um funk perfeito.

Antes de Prince, ocorreu um dos shows mais marcantes do Coachella: Portishead. A banda que ajudou a construir o trip hop voltou à ativa revigorada, com um surpreendente disco novo ("Third"). Canções antigas, como "Glory Box", ganharam roupagem mais agressiva, que combina com as músicas novas. A ambientação de palco e vídeos em preto-e-branco reforçavam o vigor melancólico das canções.

No domingo, Roger Waters fez show semelhante ao que passou pelo Brasil em 2007: relembrou Pink Floyd em faixas como "Mother" e tocou "Dark Side of the Moon" por inteiro.

Sean Penn

O festival abriu espaço para o ator Sean Penn fazer discurso político, ecológico e antibélico. Penn convocou a geração MySpace a acompanhá-lo, de ônibus, em uma marcha que chegará a Nova Orleans em 4 de maio ("O governo não fará nada; não pode salvar nada").

Mas o domingo foi do Justice. A dupla usa sintetizadores e softwares para criar dance music que tem a força de um hard rock recheado de guitarras.

O palco é decorado com uma cruz luminosa e com duas paredes de amplificadores. É dance music que faz o público da tenda se comportar como se estivesse em um show punk. É o último show do último dia do Coachella. Não parece que todos estão cansados. O povo grita e pula como se o festival estivesse começando.

Espaço para dance music cresce neste ano

Festival de tradição eminentemente roqueira, o Coachella 2008 foi invadido pela dance music. Das três tendas do evento, a de tamanho maior foi dedicada ao gênero. E o espaço foi talvez o mais concorrido dos três dias de festival.

Acostumado, desde 1999, a escalar artistas antenados com o que acontecia de mais interessante no rock e no pop, o Coachella 2008 abriu grande espaço para nomes novos da dance music, gente que não faz propriamente música "eletrônica", mas música "de pista".

O hypado selo francês Ed Banger desembarcou em peso no deserto californiano. Sebastian, Busy P., Mehdi, Uffie e Justice (esse um dos grandes momentos do festival), além de DJs conectados ao selo, como Kavinsky e Boys Noize, passaram pelo Coachella, todos pela tenda dance, a Sahara.

São DJs e produtores que tocam faixas de batidas pesadas, com muitos vocais e com o grave lá em cima.

Muitos dos artistas que passaram pela Sahara arrastaram público tão grande quanto gente que tocou no palco principal. Casos de Fatboy Slim, que se apresentou na sexta no horário de Jack Johnson, e de M.I.A., que fez um set complicado (começou atrasado; seu DJ passou o tempo todo tocando samples de tiros de espingarda; ela gritando para que as luzes da tenda fossem apagadas...).

No domingo, a seqüência Simian Mobile Disco e Chromeo (estes se apresentam em SP em junho, no Motomix) fez muita gente esquecer que Roger Waters estava no palco principal. (

EDIÇÃO 2008 MELHORA ORGANIZAÇÃO

Em 2007, muita gente ficou mais de três horas na fila de entrada do Coachella para pegar seus ingressos. Brasileiros que estavam lá receberam, semanas depois, e-mail de desculpa dos organizadores, que ofereciam ingressos para a edição de 2008. Neste ano, houve certa confusão apenas no primeiro dia. Havia fila para retirar ingressos e grande congestionamento na saída, situação normalizada nos outros dias.

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2904200811.htm (permitido apenas a assinantes)