Notas sobre um Escândalo

Filme muito bacana. Extremamente constrangedor, no melhor sentido da palavra...tem horas que dá vontade de se esconder debaixo da poltrona. Indicações bastante merecidas para a Judi Dench e, especialmente, Cate Blanchett. Exige um pouco (mas não muito) de suspensão de descrença, e uma certa dose de sadismo e masoquismo por parte do espectador. No final das contas, é um filme que mais se aproxima do horror do que de um drama britânico usual.

Seria bem fácil de perceber que Notas foi baseado em um livro, mesmo se os créditos iniciais não entregassem o fato. Provavelmente alguns gurus que escrevem manuais de roteiro para Hollywood devem ter passado por momentos de histeria ao assistir, porque mais de metade do filme é narrada em off (e muito bem narrada, pela Judi Dench), direto dos diários psicóticos de Barbara Covett. E funciona muitíssimo bem. Covett, por sinal, é uma pessoa pavorosamente ruim, de dar medo. É possível sentir uma certa empatia com a extrema solidão e falta de contato com o resto do universo que ela sente, mas quanto mais tempo se passa na cabeça dela, mais repelente e horrível ela se mostra.

Esse é um dos motivos pelos quais o filme é tão interessante, no contexto da produção mainstream hollywoodiana (o filme é distribuído pela Fox Searchlight, divisão "alternativa" da Fox): não assume qualquer compromisso com o espectador. Barbara é uma vilã asquerosa, extremamente louca e perigosa, e você é forçado a passar uma hora e meia com ela. A Sheba Hart de Blanchett é a personagem que, espera-se, ganhe simpatia do espectador...e Blanchett consegue. Falta maturidade a Sheba, mas esse é o único problema dela, o que torna os ataques de tortura psicológica e estratégias insanas de Barbara extremamente repulsivos (e o filme, divertido, em igual medida).

Excelentes atuações, bom roteiro e direção discreta. Merecia bem mais ter ganho um Oscar do que The Departed, apesar de não ter sido indicado, e ser apenas um filme muito bom, não fenomenal.