Considerações de um baiano no Stadio Olimpico di Roma

Foto de Leão da Barra
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(3ª Parte de uma série de considerações sobre estádios mundo afora. As duas primeiras podem ser vistas aqui e aqui)

No começo do mês passado eu fui chamado às pressas para Roma, pois um grupo de cardeais precisava com urgência de uma consultoria sobre alguns assuntos da mais alta relevância para o cenário político-econômico-religioso mundial (eles queriam saber se Papa que renuncia tem direito a sacar o FGTS).

E se a renúncia for com justa causa?

Ao final da extenuante reunião no Vaticano, tive algum tempo livre para fazer turismo. Como todos sabemos, Roma é uma cidade muito rica culturalmente, com inúmeras opções de museus, sítios arqueológicos, restaurantes etc. -- enfim, um  monte de coisas interessantes para ver e fazer, algumas das quais bem singulares, sem equivalente no Brasil.

Assim sendo, resolvi ir num jogo de futebol.

Caros brasileiros: o nome disso é "campo de futebol"

A peleja em questão seria Roma x Juventus, que não valia muito para o time da casa, estacionado no meio da tabela classificatória e sem grandes pretensões no campeonato. O grande atrativo para a torcida do Roma seria, realmente, complicar a vida da Juventus, que vem liderando com sobras o Calcio.

Ao comprar o ingresso, observei que meu assento seria bem perto da torcida da Juve, notícia que foi recebida com certa preocupação por minha doce e apreensiva esposa. "Mulher", disse eu com uma voz empostada que uso quando quero fazer parecer que sei do que estou falando, "fique tranquila, a Roma tem rivalidade é com a Lazio. O jogo é contra a Juventus, não vai ter problema nenhum".

Como ela sabe que em geral eu não sei do que estou falando, minha doce e desconfiada cônjuge apenas fez um muxoxo e se resignou, afirmando que preferia tentar trocar de lugar quando lá estivéssemos.

Chegando no estádio, fui logo procurar meu assento, enquanto explicava à patroa que a Europa não é bagunçada como o Brasil, que lá as cadeiras são numeradas e todo mundo respeita, coisa de primeiro mundo. Eu estava mais ou menos na metade do meu discurso sobre a realidade sócio-econômica nos estádios dos países BRICS quando nós finalmente chegamos ao nosso lugar -- que estava ocupado, obviamente.

Os mais observadores notarão que ele está degustando um belo sanduíche de mortadela enrolado em papel alumínio

Tudo bem, essas coisas acontecem. Utilizando meu profundo conhecimento da língua italiana (que consiste em gesticular um monte e começar todas frases com "ma che!"), consegui resolver o imbróglio e sentar na minha cadeira.

Foi nesse momento que tive a melhor surpresa da noite: ao contrário do Mineirão e de La Bombonera, no Stadio Olímpico não há qualquer proibição na venda de bebidas alcoólicas! A emoção foi tão grande que eu acabei enfiando o pé na jaca com força e nem notei quando a torcida da Juventus começou a atirar bombas e sinalizadores para o nosso lado. Segundo minha doce e perspicaz consorte, eu me limitei a gritar, em português mesmo (ou quase): "enfia essa bomba no ás de loscopita, rebain de xibungo! Não vou comer regue de ninguém, eu tô acostumado é com o plantão duro da Fonte Nova, onde a gente tem que desviar de saco de mijo!".

http://www.youtube.com/watch?v=Pex6e9o9N5w&feature=youtu.be

Aliás, preciso fazer uma ressalva aqui. A gente tem esse hábito de menosprezar o Brasil, dizer que vamos passar vergonha na Copa e sei lá mais o quê, mas posso afirmar sem medo de errar: essa grande instituição que é a Polícia Militar baiana já teria feito o cassetete cantar antes mesmo da primeira bomba tocar o chão.

http://www.youtube.com/watch?v=wLPjk2NcICQ

Na falta da PM-BA, tudo que pude fazer foi sair da cadeira conquistada a duras penas para assistir, da escada, o golaço de Totti que quebrou a invencibilidade de cinco jogos da Juventus -- e foi comemorado de forma efusiva e ébria de minha parte, com gritos de ordem como "vai jogar bomba na casa da quenga da sua mãe, juventino figlio de putana" (mais uma vez, relatos da minha doce e alerta companheira, eis que eu não me lembro de nada).

Mas, enfim. Tirando esse problema menor que é receber uma chuva de bombas iguais àquelas que mataram um adolescente na Bolívia na mesma semana, achei o Stadio Olimpico muito bonito, provavelmente está entre os cinco melhores que já fui. A festa da torcida também é um show à parte, e o golaço de Totti nem se fala. Recomendo a visita, só não esqueçam de escolher bem o seu lugar e dar ouvidos à sua cônjuge.

Foto de Terenzi

Interessante mas me restaram duas dúvidas.

1. O que você falou pra tirar o cara do seu lugar?

2. O José vai poder usar o FGTS?

Foto de Pringles

Francamente, ir a Roma e perder tempo em estádio.. a cidade é repleta de monumentos e museus.

Foto de Odnanref

[quote=Pringles]

Francamente, ir a Roma e perder tempo em estádio.. a cidade é repleta de monumentos e museus.

[/quote]Que pensamento pequeno-burguês (falei PENSAMENTO e não PESSOA. Que fique claro).

Mesma coisa que um gringo em visita ao "país das bundas e futebol" pensar justamente o contrário e perder um infinidade de atrativos b-size.

E, sem falar que para quem gosta de futebol, assistir aos jogos em diferentes estádios é uma experiência cultural muito rica.

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Se eu copio um autor, é plágio. Se copio vários, é pesquisa.

Foto de quase nada

Só em países de subdesenvolvidos que proíbem a venda de bebidas alcoólicas em estádios e eventos, vc citou brasil e argentina, puffff, dois países socialistas de merda. Na europa a regra é que vc consegue comprar uísque e vodka até na bomboniere do cinema.

Foto de Leão da Barra

[quote=Terenzi]

Interessante mas me restaram duas dúvidas.

1. O que você falou pra tirar o cara do seu lugar?

2. O José vai poder usar o FGTS?

[/quote]

1. Mostrei o ingresso e gesticulei muito.

2. Vai, mas só porque deu aviso prévio.

Foto de Leão da Barra

[quote=Odnanref]

[quote=Pringles]

Francamente, ir a Roma e perder tempo em estádio.. a cidade é repleta de monumentos e museus.

[/quote]Que pensamento pequeno-burguês (falei PENSAMENTO e não PESSOA. Que fique claro).

Mesma coisa que um gringo em visita ao "país das bundas e futebol" pensar justamente o contrário e perder um infinidade de atrativos b-size.

E, sem falar que para quem gosta de futebol, assistir aos jogos em diferentes estádios é uma experiência cultural muito rica.

[/quote]

Valeu, Odnanref. E é isso aí, concordo 100% com você: um jogo de futebol é parte da experiência cultural, por que não? Sob certos aspectos, é tão legal quanto visitar monumentos históricos, porque você está realmente vivenciando o cotidiano da cidade, fazendo algo que os locais fazem.

Além disso, deixe-me contar um segredo: eu passei mais do que noventa minutos em Roma. Sim, imagino que isso seja surpreendente, mas eu consegui fazer outras coisas além de ir ao jogo! Incrível, não?

Outro dado interessante: eu paguei o ingresso para o jogo do meu bolso! Idem para as passagens e hospedagem! E aí eu tenho essa mania bizarra de achar que posso fazer os programas que quiser e bem entender desde que seja eu quem esteja pagando. Curioso, né?

Foto de Pringles

É de fato uma questão pessoal mesmo, desculpe pela arrogancia. É que se eu chegasse em Roma ficaria pirado pra ver ruinas e museus.